Título: Chefe do Judiciário assume o poder
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Fonte: Jornal do Brasil, 10/06/2005, Internacional, p. A9
Presidentes do Congresso e da Câmara abrem mão do direito constitucional de comandar a República.
LA PAZ - Em sessão especial, o Congresso boliviano aceitou por unanimidade a renúncia do presidente Carlos Mesa. Momentos antes, os presidentes do Congresso, Hormando Vaca Díez, e da Câmara, Mario Cossío ¿ primeiro e segundo na linha de sucessão à presidência da Bolívia ¿ haviam anunciado que abririam mão a este direito. Assim, os parlamentares designaram o presidente da Suprema Corte de Justiça, Eduardo Rodríguez, como novo governante do país. Marcada para a manhã de ontem, a sessão não ocorreu devido à morte de um mineiro, vítima dos disparos da polícia durante os confrontos com manifestantes. Diversos setores sociais exigiam há dias que tanto Díez como Cossío abrissem mão ao direito de sucessão constitucional, dando lugar ao titular da Suprema Corte ¿ o único com poder para convocar eleições antecipadas.
¿ Declinarei irrevogavelmente, e com isso acabou ¿ disse Vaca Díez, também em entrevista coletiva, durante a qual culpou pela desordem que assola o país o próprio Mesa e o líder opositor do Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales.
Pela tarde, o comandante das Forças Armadas, Luis Aranda Granados, foi à TV declarar que o Exército vai ¿salvaguardar a democracia do país¿. O almirante clamou os congressistas reunidos em Sucre para escolher o sucessor do presidente Carlos Mesa a ¿agir serenamente¿, para colocar um fim na crescente crise política.
¿ Vamos respeitar as decisões do Congresso, porque estamos fazendo um chamado a todos os atores do conflito para chegarem a uma solução real ¿ disse.
No entanto, deixou claro que o Exército está pronto para agir ¿dentro de suas atribuições, se necessário, para preservar a integridade e soberania nacionais¿.
Na quarta-feira, Mesa advertiu para a possibilidade de uma ¿guerra civil¿, caso Vaca Díez assumisse a presidência. Setores sociais que se manifestam em La Paz e El Alto são contrários à sucessão constitucional, pois vêem o presidente do Congresso como um oligarca da província de Santa Cruz e um aliado político do ex-presidente Gonzalo Sanchéz de Lozada ¿ que renunciou em 2003 após violentas manifestações populares.