Título: Solidão bem-remunerada
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 10/06/2005, Economia & Negócios, p. A23
Foi-se o tempo em que a escolha de um pretendente era a preocupação principal das mulheres sozinhas. Prova disso é a alta renda das brasileiras solteiras, viúvas e descasadas, interessadas cada vez mais em investir em sua carreira profissional. Os rendimentos destas 20 milhões de brasileiras se mostram 62% superiores em relação às casadas. É o que aponta a pesquisa Sexo, Casamento e Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com o levantamento, que utilizou dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000, o número de mulheres solitárias subiu de 35,47% para 38,38% nos últimos trinta anos.
É nas grandes cidades que o contingente de mulheres acima de 20 anos de idade sem compromisso matrimonial ganha destaque. Entre os motivos que sustentam o crescimento desse grupo, segundo o economista Marcelo Neri, pesquisador do Centro de Políticas Sociais da FGV, são a preocupação com o desemprego e a opção delas por concentrar esforços nos estudos.
- As mulheres fizeram uma revolução mo mercado de trabalho. Com mais estudo, passaram a ganhar mais. A independência financeira permitiu que elas escolhessem o próprio destino, optando por ficarem sozinhas ou acompanhadas. Nas grandes cidades, o índice de solteiras chega a 45% das mulheres e nas áreas rurais é de 25 %. Reflexo do estudo e trabalho - ressalta Neri.
A pesquisa, no entanto, revela que o maior grau de instrução feminino se traduz em uma maior solidão. A possibilidade de uma mulher, com 12 anos de estudo, estar desacompanhada é quase 70% superior do que aquelas sem instrução. As maiores diferenças nas rendas entre as sozinhas e as acompanhas são encontradas nas comparações de aposentadorias, pensões públicas e transferências privadas, que incluem as pensões alimentícias. Só nesta última categoria, os valores recebidos pelas solteiras é 674% superior aos das casadas.
- É importante analisar que as rendas do trabalho e de transferência privadas caem nas idades mais avançadas entre as casadas. No entanto, as rendas vindas das pensões e aposentadorias, por direitos adquiridos de maridos ou de pais, compensam a queda - afirma Neri.
No caso das viúvas é importante observar que, em 75% dos casos, os casamentos foram celebrados com homens mais velhos. Com isso, eles morrem mais cedo e elas vivem de pensões.
Mesmo assim, destaca Neri, o trabalho é a principal origem da renda para mais da metade das solteironas, aquelas que nunca viveram com ninguém. A maior parte dessas mulheres trabalha com carteira assinada. Elas correspondem a 48% das mulheres empregadas no país. Entre as funcionárias públicas, as sozinhas correspondem a 39%.
- A renda da mulher solteira é comprovada quando percebemos que 87% das mulheres que exercem atividades não-remuneradas são acompanhadas. As casadas inativas, que são as donas-de-casa, representam 67% das mulheres no país - explica.
O número de uniões consensuais cresceu nos últimos trinta anos. Entre 1970 e 2000, o total de acompanhadas caiu de 64,43% para 61,62%). No entanto, entre elas, aumentou a proporção das que ''se juntaram'' de 4,39% para 16,53%.
- O jeito informal do brasileiro, muito característico no mercado de trabalho e na previdência, chegou ao casamento. Isso é um reflexo da economia. Como são processos que envolvem gastos financeiros, o número de casamentos e divórcios está em declínio, em função da renda - endossa Neri.
Cerca de 90% das mulheres acompanhadas são mães (91,9% em uniões formais e 88,2% nas informais). O número médio de filhos por mãe é de 3,08. Para Neri, as crianças inspiram um maior grau de formalização das uniões. Entre as mulheres que vivem sozinhas, a taxa de maternidade é 58,9% com uma média de 3,38 filhos por mãe. Entre as solteiras, 34,72% são mães, com média de 1,47 filho.