Título: Punição cria saia-justa para o PT
Autor: Sérgio Prado e Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 30/05/2005, País, p. A3

O PT vive agora um dilema. Apesar de fugir do argumento da punição, líderes do partido garantem que 12 dos 14 deputados que assinaram a lista de abertura da CPI estão atacando o partido. Segundo os governistas, dois deputados teriam entregue cartas autorizando a retirada dos nomes deles para barrar a CPI. Com isso, o partido criou um problema para si próprio: como punir os 12 considerados ''opositores'' sem descumprir o acordo de manter em sigilo o nome dos dois ''aliados''.

O ex-líder do governo na Câmara Professor Luizinho (SP) afirma que a punição ainda não foi discutida, mas os signatários da CPI não sairão ilesos:

- Quem é do PT terá todos os direitos que o partido permite. Quem não é, não terá esses direitos. Esses deputados que assinaram a CPI trabalham dioturnamente para atrapalhar o governo. São aliados do PFL e do PSDB. Mas, não vamos transformá-los em vítimas, que é o que eles querem. Não tem nenhuma vítima ali - atacou.

O presidente do partido, José Genoino, reforçou a idéia de que 12, e não os 14 signatários da CPI, estariam contra o governo.

- Esses 12 prejudicaram todos - afirmou, esquivando-se de dizer quem seriam os dois que teriam entregue a carta abrindo mão da assinatura. - Se quiser saber quem são, pergunte ao líder do partido - completou.

Ao se recusar a dizer quem são, o PT abre brecha para especulações de que eles não existam, e o partido pode estar apenas escolhendo os deputados que deseja punir, deixando de fora parlamentares essenciais para o bom funcionamento da Casa.

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia diz que esse assunto já está superado, mas também se nega a dizer quem são os dois que teriam aceitado retirar o nome.

- Cada um fez o que achou que deveria fazer. O governo também fará a sua avaliação. O Genoino colocou o dedo na ferida. Na medida em que o senador vai e assina e os deputados vão e assinam rompe um pacto de democracia interna. Não vou dizer quem são os que entregaram a carta.

Durante a semana foi ventilado que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, deputado Antônio Carlos Biscaia (RJ) seria um desses nomes. Ontem, o deputado negou veementemente essa informação:

- Não sei quem criou isso. Sou um dos 14 que assinaram a lista. Além disso, não é a punição que vai trazer a unidade que tanto desejo para o nosso partido. Todos que assinaram são petistas autênticos e merecem ser respeitados.

Biscaia será o responsável pelo próximo round do trâmite da CPI. Como presidente da CCJ, vai escolher o relator do recurso que pede a suspensão da CPI alegando ser genérica. Apesar da pressão, Biscaia garante que o trabalho será rápido e técnico.

- A CCJ é a comissão mais técnica da Casa. Vai analisar o recurso que alega que a CPI é genérico, e quanto a isso, ainda não formei minha convicção. Até quarta não havia recebido o recurso. Assim que receber, definirei o relator para que possa colocar em pauta o mais rápido possível - explicou.

A agilidade do recurso é tudo o que os governistas querem, para tentar barra a CPI antes que ela cause grande estrago. Enquanto isso, a oposição diz que usará o regimento para tentar barrar o trâmite do recurso na CCJ.

- Não vou permitir nenhuma manobra regimental aqui que retarde o processo. É o presidente que define a pauta, então, assim que o relatório estiver pronto, será votado.