Título: Frente contra a prostituição
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2004, Brasília, p. D-5

Fórum discute o caso Benício e pede o fim da exploração sexual de menores

Representantes de entidades que lutam pelo fim da exploração sexual de crianças e adolescentes querem fazer de Brasília um exemplo nacional. Para discutir a situação das menores prostitutas do Amazonas, eles reuniram-se ontem no Ministério da Justiça, durante a abertura do Fórum de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes do DF - Debatendo o caso no Amazonas. Cobraram vigor na apuração do caso que envolve o presidente licenciado da Câmara Legislativa, Benício Tavares (PMDB), acusado de ter relações sexuais com menores durante passeio num iate em pleno Rio Negro. - Esse caso é emblemático. Se não houver comoção nacional haverá muita poeira debaixo de tapete mais uma vez - afirma Neide Castanha, coordenadora do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes. A capital da República, que, segundo Neide, sempre fica distante dos escândalos sexuais com menores envolvendo políticos, agora voltou para si o foco da discussão.

Além de Neide, participaram do evento os deputados federais Luiz Couto (PT-PB) e Maria do Rosário (PT-RS), a distrital Erika Kokay (PT), Marta Tonin, do Conselho Federal da OAB, e Ivone Salucci, da rede Txai do Amazonas, de enfrentamento à violência sexual. Ivone ressaltou que não são incomuns os casos de políticos envolvidos com as meninas do estado. A CPI da Exploração Sexual, que visitou 22 estados e foi concluída este ano, no Congresso, apontava até a participação do vice-governador do Amazonas, Omar Aziz, com menores de idade. No entanto, o nome dele foi retirado da lista de 250 indiciados pela comissão. Segundo Maria do Rosário, relatora, por pressão dos colegas.

- Espero que neste caso do naufrágio das meninas de Manaus a Justiça escute as vítimas, que sofrem preconceito principalmente por serem pobres.

Ivone Salucci afirma que Manaus faz parte de uma rota internacional de tráfico de mulheres (na linha Pará, Amazonas, Roraima e Caribe) e hoje é um dos locais com mais elevado índice de exploração sexual no País. Para Neide Castanha, Benício errou mesmo se não participou dos programas, como ele alega, por não ter denunciado: ''no mínimo uma omissão''.

Ela explica que a prostituição no DF acontece de maneiras distintas. No Entorno, as meninas buscam a sobrevivência. Nos centros urbanos, procuram inclusão - morar bem e andar bem vestida, por exemplo.

- As menores de idade aqui estão em locais fechados, como casas de massagens - diz Neide, ressaltando que não há números nacionais ou locais que estimem a quantidade de menores que fazem programa.