Título: Liquidação eletrônica
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 12/06/2005, Economia & Negócios, p. A17

A queda de 8% do dólar frente ao real nos últimos meses já se reflete nos preços dos eletroeletrônicos. Depois de ajudar na recomposição da margem de lucro dos fabricantes, o recuo da moeda americana começou a ser repassado ao varejo devido à forte concorrência. Os descontos são de até 25%. Porém, a variação depende do produto, já que alguns consomem mais componentes eletrônicos importados do que outros. Por isso, é necessário observar os preços dos DVDs, televisores, celulares e aparelhos de som de cada marca para conferir a diferença.

O setor comemora vendas aquecidas. Embora o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no país) aponte estagnação do consumo das famílias, a produção de bens de consumo duráveis continua crescendo e é o segmento que tem liderado a expansão industrial no país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados da balança comercial, do Ministério do Desenvolvimento, apontam alta de 8,3% no volume e de 16% no valor das importações de equipamentos eletrônicos e componentes feitas pelos fabricantes nacionais no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.

- O grupo mais importante deste setor são os componentes para os produtos eletroeletrônicos. As importações totalizaram nos primeiros três meses deste ano cerca de US$ 1,7 bilhão. Essa maior demanda é motivada pela alta da demanda no mercado doméstico e o câmbio dá um empurrão para elevar o consumo, uma vez que deixa os custos dos itens mais baratos. O câmbio é responsável por 25% da demanda - aponta Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Por outro lado, o câmbio ainda não afeta, segundo os dados da balança, as exportações das companhias, que cresceram 48% nos primeiros três meses deste ano.

- Do mesmo modo que as empresas compram mais barato, vendem mais caro. As empresas brasileiras ampliaram a capacidade de produção no ano passado para poder exportar. E muitas ainda estão segurando os reajustes de matérias-primas no mercado internacional para não dificultarem novos contratos - diz Humberto Barbato, diretor de relações internacionais da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

Algumas empresas, no entanto, já exportam menos com o dólar fraco e estudam demitir parte dos funcionários, se o cenário não se reverter.

Quem depende do mercado interno está em situação melhor. E os ganhos com o câmbio são integralmente repassados. Desde o início deste mês, a LG baixou os preços entre 3,5% e 4% para suas linhas de áudio e vídeo. Já a Sony reduziu em 5%, incluindo aparelhos de som. A vendedora Natasha Françoise, de 23 anos, acompanha os preços de perto e sentiu a queda em alguns itens.

- Quero comprar um som e uma televisão nova. Por isso, vou esperar mais um pouco. Quem sabe os preços não fiquem mais acessíveis - torce Natasha.

José Roberto Campos, vice-presidente da Samsung, acredita que a queda do dólar terá efeito duradouro. Em algum itens, com, produção mais demorada, o repasse aos preços é feito na reposição seguinte. No caso dos celulares, é sempre automático, garante.

- Além da própria competição, o dólar sempre está por trás, o que te permite ser mais agressivo. Os televisores de plasma, por exemplo, passaram, em média, de R$ 22 mil para R$ 16 mil em três meses - exemplifica.

Em produtos com maior tecnologia, como TV de plasma, cristal líquido e aparelhos de som, o dólar chega a ter peso de até 90% no preço, já que a maioria já vem montada do exterior. Em outros como DVD, por exemplo, o impacto é menor - cerca de 60%.

A Gradiente ainda não fez os repasses mas sabe-se que a companhia já faz negociações com os fabricantes no exterior com o objetivo de reduzir os preços. A Panasonic também não barateou seus produtos.

- Ainda não consegui fazer os repasses porque os custos como aço e frete ainda têm grande impacto nos preços - explica Ricardo Uotani, gerente de marketing da Panasonic.

A Semp Toshiba também começa a redução dos preços nos próximos dois meses no mercado interno. Para o presidente do grupo Semp Toshiba, Afonso Antônio Hennel, a queda do dólar acaba inibindo as exportações da empresa, porque o custo do produto não caiu tanto quanto o dólar. Os produtos que estão sendo fabricados agora foram pagos com dólar de três ou quatro meses atrás.

E não são só componentes importados que fazem o custo de um produto. Na empresa, 55% das compras, entre insumos e componentes, em 2004, foram feitas de fornecedores nacionais. Foram comprados US$ 138 milhões de insumos e componentes de mais ou menos 40 fornecedores brasileiros, contra US$ 112 milhões de estrangeiros.