Título: Estrangeiro ganha com real forte
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 12/06/2005, Economia & Negócios, p. A20

A trajetória de valorização do real frente ao dólar, intensificada nos primeiros meses do ano, se revelou uma fonte a mais de ganho para investidores estrangeiros, além dos proporcionados pela maior taxa real de juros que o Brasil oferece. O retorno obtido somente com a diferença de cotações, para recursos que ingressaram no momento em que a moeda americana estava a R$ 2,95, como em maio de 2004, e que saíram um ano depois, chega a 17%, um rendimento que compete com os títulos públicos mais bem remunerados pelo governo.

Para analistas, esta é uma das principais razões para que, em abril, estimulada por um dólar médio de R$ 2,528, a saída de recursos aplicados em renda fixa em curto prazo no Brasil - investimento de até um ano, considerado especulativo - tenha atingido US$ 113 milhões, ou o dobro do verificado em novembro. Nos doze meses anteriores, o dólar médio estava em R$ 2,845. A saída levou o saldo do investimento estrangeiro (entrada menos saída) a ficar negativo pela primeira vez em seis meses, em US$ 23 milhões.

- Em abril, a cotação do dólar estava muito boa para se enviar recursos ao exterior. Além disso, havia uma expectativa de mudança dessa tendência de queda, já que a percepção era de que a apreciação do real estava chegando ao limite e que, a qualquer momento, poderia haver alguma intervenção do governo atendendo à pressão dos exportadores, que perdem com o dólar baixo. Se eles esperassem até agora, quando o dólar subiu, teriam perdido a chance de ganhar mais - diz Guilherme Loureiro, da Tendências.

O professor Rogério Sobereira, da Fundação Getúlio Vargas, dá um exemplo concreto. Se um estrangeiro entrou em 3 de maio de 2004 com US$ 1 milhão para aplicar em um título de renda fixa (como uma Letra Financeira do Tesouro, que corresponde a 60% dos títulos emitidos pelo governo e cuja remuneração acompanha a Selic), converteu os recursos em R$ 2,975 milhões, pelo câmbio do dia. Com a remuneração média de 17,42% ao ano do título, os recursos cresceram para R$ 3,493 milhões ao fim de um ano, em 30 de abril de 2005. Reconvertidos nessa data para remessa ao exterior pela taxa de R$ 2,528, os recursos saltaram para US$ 1,381 milhões, 17,6% a mais do que se tivessem saído pela mesma taxa de entrada - dobrando a rentabilidade proporcionada pelo título público.

- Certamente gestores de fundos lá fora estão recorrendo a esse expediente para melhorar a performance dos investimentos. Não chega a ser um risco para as contas externas, por enquanto. Isso só acontecerá se os fundamentos da economia brasileira piorarem. Enquanto isso, esse capital vai entrar e sair diversas vezes, enquanto for possível esse tipo de ganho. Acredito que, em maio, o saldo tenha ficado positivo de novo.