Título: Abin alertou Correios sobre corrupção
Autor: Hugo Marques e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 11/06/2005, País, p. A5

A direção da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi informada em abril pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre o esquema de corrupção na empresa, mas não tomou providências e nem apresentou denúncia à Polícia Federal. Ontem, a PF chegou ao nome da pessoa que mandou fazer a filmagem na sede dos Correios, que mostra o então chefe do Departamento de Contratações da empresa, M aurício Marinho, embolsando propina de R$ 3 mil. Hoje será feita a acareação de Marinho com o engenheiro João Carlos Mancuso Vilela e o advogado Joel Santos Filho, que revelaram ter feito a gravação. Joel confessou que recebeu R$ 5 mil pela gravação, mas a PF não se convenceu com esta história, pois ele teria viajado quatro vezes entre Curitiba e Brasília com Mancuso e ainda pagou R$ 3 mil de propina a Marinho. A suspeita da PF é que uma grande quadrilha, com várias segmentações, esteja envolvida com o esquema de pagamento de propinas e desvios de grandes licitações nos Correios.

A suspeita de que a própria Abin estaria envolvida com o escândalo fez com que o diretor-geral da agência, delegado Mauro Marcelo, fosse chamado ao Palácio do Planalto para dar explicações ao chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, e ao chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix. A explicação da Abin é que em abril a agência detectou o esquema de corrupção nos Correios e avisou à diretoria da empresa.

O presidente da ECT, João Henrique Souza, foi aconselhado a tomar providências, num prazo de dez dias, para estancar os desvios de recursos públicos nos Correios, mas nada foi feito. A PF informou ontem que não recebeu denúncia de corrupção nos Correios em abril. Os agentes públicos que não denunciam fatos ilícitos podem ser enquadrados no crime de prevaricação. João Henrique foi nomeado para o cargo pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).