Título: Organização social ainda é tímida
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 11/06/2005, Brasília, p. D1

Timidamente, a sociedade civil se organiza. Preenche lacunas que o governo não exerga e os programas sociais não alcançam. Contra o trabalho infantil, o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) aplica a fórmula do protagonismo juvenil. No lugar de impor programas, bolsas, condições, o movimento ouve os meninos, como são carinhosamente chamados. São eles que definem como e se querem ser ajudados. - Essas crianças têm muito a dizer e muitas vezes os adultos não escutam. Fazemos reuniões, ouvimos os problemas, falamos de direitos humanos e brincamos também - afirma Rodrigo Garcia, educador do movimento.

Nos núcleos comunitários, a maioria dos voluntários é ex-meninos do movimento, criado em 1985. Em Brasília, 160 crianças de 8 a 18 anos são atendidas.

- Nós não buscamos apenas os meninos que estão debaixo dos viadutos, mas também as crianças que passam fome nas periferias, sofrendo abusos e agressões - explica Rodrigo.

Às vezes, para resolver os problemas dos meninos, o movimento trabalha a estrutura de toda uma comunidade. Em 1999, uma criança pertencente a um grupo de catadores de papel ingressou no movimento.

- Vimos que para tirar aquela criança do trabalho, teríamos que trabalhar toda aquela comunidade - conta.

A alternativa foi formar uma cooperativa dos catadores de papel. Organizados, os lucro do catadores aumentou, e o trabalho das crianças não foi mais necessário.

- Hoje, as mais de 200 crianças da comunidade estão todas na escola e no Peti. Temos o compromisso dos catadores de que os meninos não chegam nem perto da cooperativa.

Quem dependeu do movimento para mudar de vida, hoje retribui cuidando de outras crianças. Ex-menina carente, Rosilda Flor, 20 anos, participa há oito anos do movimento e hoje é educadora.

- Muitas vezes o feijão faltou na minha casa e tive que comer só o arroz. Éramos 4 filhas e uma mãe que nos sustentava sozinha depois de o meu pai sair de casa. Apanhávamos muito dele e, a principal lição que aprendi com o movimento foi reivindicar os meus direitos. Denunciei o meu pai, confrontei e a violência acabou - conta.