Título: Diretora aponta compra irregular na Saúde
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/06/2005, Brasília, p. D3

Ex-sócio de clínica confirma empréstimo ao Santa Juliana.

Em reunião extraordinária da CPI da Saúde na manhã de ontem, a chefe da Diretoria Farmacêutica da Secretaria de Saúde, Eva Ferraz, confirmou uma denúncia de compra paga antes da entrega de material odontológico no valor de R$ 381 mil. O gerente de Odontologia Edílson Camacho teria fraudado a nota de recebimento do material odontológico, pois o valor, vultoso, foi pago antecipadamente. Acreditando tratar-se de roubo, Eva chegou a registrar um boletim de ocorrência na polícia e pediu abertura de sindicância. A empresa fornecedora só fez a entrega 20 dias depois. Apesar de a secretaria ter adquirido mais de dois mil materiais para realizar implantes dentários, Eva afirmou que este tipo de serviço não é oferecido pelo governo. Ela confessou ainda que não tinha controle dos empréstimos de medicamentos e de material cirúrgico ao Santa Juliana, nem sobre sua devolução, apesar de ter sido chefe de farmácia.

Também foi ouvido pelos distritais o sócio-gerente do Centro Médico de Planaltina (Cemep), Hélio Ivan Stroher, clínica da qual o ex-secretário de Saúde Arnaldo Bernardino foi sócio até assumir a vaga no 1º escalão do GDF. Stroher não soube responder alguns questionamentos sobre operações comerciais entre o Cemep e o Hospital Santa Juliana, alvo de investigações na CPI da Saúde por suposto favorecimento no encaminhamento de pacientes da rede pública para seus leitos de UTI. No entanto, Stroher confirmou um empréstimo de R$ 450 mil da Cemep ao Santa Juliana que, segundo ele, teria sido feito ''sem registro contábil''. O repasse de dinheiro teria entrado na cota da ex-sócia do Cemep e atual diretora do Santa Juliana, Maria Auxiliadora.

O sócio contou ainda que Bernardino adquiriu as ações do Cemep que pertenciam ao policial militar médico Alberto Jorge Madeiro Leite, com parentes da direção do Santa Juliana, para que o ''amigo'' não incluísse aquele patrimônio no processo de divórcio com a ex-esposa, a fim de que não entrassem na partilha de bens. Stroher não reconheceu um recibo de pagamento ao Hospital Santa Paula para pagamento de laqueaduras feitas em mulheres asseguradas pelo convênio da PM. ''Nunca vi esse recibo'', disse o sócio da Cemep.

- Estamos tentando entender como se deu a entrada e saída de dinheiro do Cemep para o Santa Juliana. Estamos trabalhando com suspeitas de lavagem de dinheiro - explicou a distrital Eliana Pedrosa (PFL), presidente da CPI da Saúde.

Os negócios entre o Cemep e o Santa Juliana eram bastante próximos. A clínica chegou a avalizar a compra de uma ambulância pelo Santa Juliana.

O terceiro depoimento - de Maria Auxiliadora do Nascimento, funcionária da Central de Material Esterilizado do Hospital Regional da Asa Norte - ocorreu a portas fechadas.