Título: Júri inocenta Michael Jackson
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/06/2005, Internacional, p. A8

Cantor se livrou das 10 acusações, que poderiam lhe render quase 20 anos de prisão, após 32 horas de deliberações

O cantor Michael Jackson é inocente. Essa foi a avaliação do corpo de jurados no tribunal de Santa Maria, Califórnia, anunciada ontem depois de 32 horas de deliberações e quatro meses de julgamento. O júri, com oito mulheres e quatro homens, inocentou o astro das 10 acusações que pesavam contra ele, entre elas conspiração com fins extorsivos, seqüestro, abuso sexual de menor de 13 anos e fornecimento de agente tóxico (vinho) com fins de cometer delito.

Jackson, 46 anos, que as negava veementemente, enxugou os olhos com um lenço enquanto o veredito era lido, em um tribunal lotado de jornalistas e fãs. Do lado de fora, uma multidão de admiradores americanos e estrangeiros comemorou o resultado. Pombas brancas foram soltas para cada absolvição. Caso condenado, o cantor receberia pena de quase 20 anos. Abatido e escorado por familiares ao deixar a corte, o ''rei do pop'' saudou brevemente a multidão quando se dirigia a seu carro, sem fazer qualquer declaração.

- Espero que muitas lições sejam aprendidas com tudo isto - afirmou o reverendo e conselheiro do cantor, Jesse Jackson, pouco depois do veredito. - Michael deve avaliar as implicações da conduta que o deixou com problemas.

Foram analisados os depoimentos de 140 testemunhas e cerca de 600 provas. Logo após a sentença, um comunicado do corpo de jurados foi lido, no qual diziam sentir o peso de ter os olhos de todo mundo sobre eles e pediam para voltar às suas vidas privadas, anonimamente. No entanto, mais tarde, sorridentes, deram uma entrevista coletiva.

- Não posso identificar agora qual foi o ponto específico que me levou a julgá-lo inocente. Havia toneladas de provas. Diria que consideramos todas elas - justificou o jurado número 1, um senhor de meia-idade.

- Que mãe deixaria seu filho, voluntariamente, dormir com um homem? Não digo apenas com Michael Jackson, mas com qualquer pessoa - comentou outra jurada, indicando que alguns jurados não teriam julgado o astro, mas a família que o acusava. De fato, durante seu depoimento, a mãe do menino implorou que não a julgassem e disse que o advogado de defesa estava errado.

As acusações contra o cantor foram alavancadas por um controverso documentário de TV, de 2003, no qual Jackson aparece andando de mãos dadas com o menor - que na época tinha 13 anos e estava com câncer - e defendendo a prática de dividir a cama com meninos. De fato, a acusação se baseou fortemente no depoimento do adolescente, hoje um estudante de 15 anos, que disse sob juramento que o cantor o molestou pelo menos duas vezes, depois de ter sido alcoolizado no rancho Neverland, onde vive o astro.

O promotor Tom Sneddon, que esteve à frente do caso, se disse desapontado:

- Fizemos a coisa certa, pelas razões certas - afirmou. - Não vou olhar para trás e me desculpar por nada.

Durante o julgamento, o advogado de defesa, Thomas Mesereau Jr, argumentou que o menino havia inventado que fora molestado à pedido de sua mãe - que foi apresentada como uma golpista, que usava a doença do filho para se aproximar de celebridades.

A equipe de defesa chegou a chamar um dos melhores amigos jovens do astro, o ator Macaulay Culkin, que disse em seu testemunho que as acusações eram ''ridículas''.

- A justiça foi feita. O homem é inocente. Sempre foi - declarou Mesereau Jr.

Debbie Rowe, ex-mulher do astro e mãe de seus dois filhos, também defendeu Jackson:

- Eu nunca teria me casado com um pedófilo. O sistema judicial funciona - comemorou a enfermeira.

No website do cantor (www.mjjsource.com), foi postada a imagem de uma mão com ''V'', em sinal de vitória. Michael vai receber de volta os US$ 3 milhões que havia pago como fiança quando foi detido em novembro de 2003.