Título: A crise do outro lado do gasoduto
Autor: Ricardo Rego Monteiro e Marina Ramalho
Fonte: Jornal do Brasil, 14/06/2005, Economia & Negócios, p. A19

Mesmo no Rio de Janeiro, onde o levantamento da ANP não identificou aumentos na última semana, já começam a ser verificados reajustes nos valores cobrados pelo GNV. No posto Ipiranga da Rua General Polidoro, em Botafogo, o metro cúbico do insumo, que na semana passada custava R$ 1,146, era vendido ontem a R$ 1,196. O engenheiro José Augusto Leal, de 54 anos, reclamou que já está sentindo o golpe da crise boliviana no bolso.

- Pelo que ando lendo, estou esperando um aumento de 18% a 20% no preço do gás veicular nos próximos meses. Costumo abastecer de três a quatro vezes por semana e já pude sentir diferença. A falta de concorrência entre os postos contribui para que o preço suba sob qualquer pretexto - opina o engenheiro, que planeja voltar a usar gasolina se o custo continuar a subir.

O publicitário Alexandre Pissarenko, 42 anos, optou pelo carro a gás há menos de um mês e já está insatisfeito.

- Foi um tremendo azar. Faz mais de um ano que pretendo trocar a gasolina pelo gás. Instalei o equipamento há apenas 20 dias. Não acredito que vá faltar gás no mercado, mas a questão é se o preço vai continuar favorável.

Entre os taxistas, pioneiros no uso do GNV, o receio também é grande. Há três anos na profissão, Paulo Henrique Dantas Batista, 36 anos, já comenta o aumento entre os colegas.

- Já ouvi muitos taxistas falarem do aumento, o que vai pesar muito nas despesas. Não estou preparado para absorver esse custo, mas, se faltar o produto, será ainda pior. Se eu precisar substituir o gás pela gasolina, terei que mudar de emprego - lamenta o taxista.