Título: Gás natural já está mais caro nos postos
Autor: Ricardo Rego Monteiro e Marina Ramalho
Fonte: Jornal do Brasil, 14/06/2005, Economia & Negócios, p. A19

Crise na Bolívia e ameaça de desabastecimento provocam reajuste de preços

A calma aparentemente voltou à Bolívia, mas a crise no país andino provocou uma onda especulativa nos postos de gasolina das principais capitais brasileiras, que faz estragos no bolso do consumidor. Levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP) com 743 postos constatou um aumento de 1,56% dos preços médios do Gás Natural Veicular (GNV) nas revendas em todo o Brasil. De acordo com os dados, que focalizaram os preços entre os dias 5 e 11 da semana passada, embora os valores cobrados nas refinarias tenham se mantido nos mesmos R$ 0,685 por metro cúbico da média da semana anterior, os preços nas bombas variaram de R$ 1,091 o metro cúbico para R$ 1,108.

Apesar do arrefecimento da crise na Bolívia - que fornece 24 milhões de metros cúbicos de gás natural para o Brasil por dia -, as empresas distribuidoras e os governos estaduais já começaram a adotar medidas com vistas a minimizar o impacto de uma eventual suspensão do fornecimento do insumo pelo vizinho andino. O governo do Rio de Janeiro anunciou ontem que os 50 maiores consumidores industrias de gás natural terão que substituir o produto por outros insumos, como o óleo combustível.

A decisão foi comunicada pelo secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, após uma reunião com o presidente da distribuidora CEG/CEG-Rio, Daniel Lopez Jordá; o secretário de Defesa do Consumidor, Sérgio Zveiter; e o presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos (Asep), João Paulo Dutra de Andrade.

Além da substituição do gás nas indústrias, Victer anunciou que não permitirá a suspensão do fornecimento de GNV para fins de racionamento, mesmo que o Ministério de Minas e Energia adote tal iniciativa.

A medida, segundo Victer, visa a minimizar o impacto econômico para as cerca de 400 mil famílias que dependem do GNV para seu sustento. Ao todo, estima o secretário, 2 milhões de pessoas dependem do insumo para atividades como transporte rodoviário, coletivo e de cargas. O rol de medidas do governo também inclui a proibição de qualquer iniciativa que venha a comprometer o abastecimento do consumidor residencial, segundo Victer.

No levantamento da ANP, a maior alta (3,5%) foi verificada nos postos do Estado de São Paulo, onde o metro cúbico do GNV saltou de R$ 1,031 para R$ 1,067. No Rio, os preços ficaram praticamente estáveis, oscilando de R$ 1,059/metro cúbico para R$ 1,058/metro cúbico.

Segundo o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), São Paulo apresentou a maior variação devido não só à especulação dos postos, mas principalmente à mudança dos critérios de cálculo do preço do GNV no estado, determinado na última semana pela Comissão de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (CSPE).

- Desde a semana passada, o preço do GNV em São Paulo passou a ser computado a partir de um mix que inclui os valores do gás natural produzido no Brasil e na Bolívia. Antes, só levava em conta o valor do gás produzido internamente - justificou Pires, que não descarta, no entanto, uma recomposição de preços como forma de proteger os donos dos postos de eventuais problemas com abastecimento no futuro.

Aumentos também ocorreram em Minas Gerais, cujos postos reajustaram os preços de R$ 1,281/metro cúbico para R$ 1,282 - alta de 0,07%. Em Santa Catarina, verificou-se aumento médio de 1,61%. Lá, os postos cobravam R$ 1,239 pelo metro cúbico do GNV na primeira semana de junho, mas, na semana passada, o valor médio estava em R$ 1,259.

Também foram verificados aumentos na região Nordeste, mais especificamente no Rio Grande do Norte (1,65%). Entre os dias 5 e 11 deste mês, os postos locais cobravam R$ 1,228 pelo metro cúbico do insumo. Na semana anterior, o GNV era encontrado, na média, por R$ 1,208.