Título: Novas denúncias de Jefferson agravam crise
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Fonte: Jornal do Brasil, 13/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Em função das novas denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson, divulgadas ontem, o clima tenso que se instalou sobre o Planalto se agravou. O deputado afirmou que o dinheiro destinado a pagar o ''mensalão'' de R$ 30 mil por parte do PT ao PP e ao PL era proveniente de estatais e empresas privadas e vinha em ''malas''. Mais: revelou que a cúpula petista estaria a par dessas negociações. As novas acusações de Jefferson provocaram uma maratona de reuniões entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a coordenação política do governo.

Lula se reuniu ontem, na Granja do Torto, com o ministro José Dirceu (Casa Civil) e o presidente do PT, José Genoino, para discutir formas de reação às novas afirmações do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), dadas em uma segunda entrevista à Folha de S.Paulo. O encontro teve início às 18h e ainda não havia acabado até às 21h.

Um pedido de licença da Casa Civil ou até de demissão seria analisado na reunião. A possível saída de Dirceu dependerá mais dele do que do presidente. Lula avalia que o ministro só pode deixar o cargo se for por meio de uma negociação. Do contrário, o manterá no posto. Na semana passada, o próprio Dirceu disse a ministros e amigos que pensava em deixar o governo.

Sábado, como anfitrião de um coquetel em apoio ao jornalista e escritor Fernando Moraes - que teve o livro Na toca dos leões censurado pela Justiça -, Dirceu acabou se transformando no alvo da solidariedade de seus convidados. Abraçado por amigos, repetia estar tranqüilo e explicava que ''este é um momento difícil''. Dirceu procurou minimizar a preocupação, desqualificando a acusação do presidente do PTB por falta de provas documentais. Afirmou que Jefferson quer se transformar em vítima quando é réu. E negou que sairá do governo.

Reação não muito diferente da do presidente do PT, José Genoino. Em rede nacional, o deputado ressaltou que o acusado não pode virar acusador. Genoino negou ainda a existência do ''mensalão'' e adiantou que o PT vai processar Jefferson por calúnia.

O ministro Dirceu avalia com cuidado os prós e contras de um eventual afastamento. Sua licença poderia tirar parte da pressão da crise sobre o Planalto, pois Dirceu retomaria o mandato de deputado federal e faria sua defesa no Congresso, onde há embate com a oposição. Essa avaliação é feita por membros da cúpula do governo e conta com a simpatia de Lula, mas há um complicador. Ministros, Genoino e amigos de Dirceu acham que o afastamento, ainda que por meio de licença temporária, transmitiria as idéias de fraqueza do governo e de culpa dos petistas.

Diante da proximidade com o depoimento do petebista no Conselho de Ética na Câmara, amanhã, o presidente Lula decidiu se reunir ontem também com o secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, ministro Luiz Gushiken, e com o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, na Granja do Torto. Há especulações de que o Lula possa dar o pontapé numa ampla reforma ministerial, conforme antecipou o JB, com a demissão dos ministros da Previdência, Romero Jucá, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Não se descarta a possibilidade da saída de Dirceu, Aldo Rebelo, Olivio Dutra (Cidades) e Humberto Costa (Saúde).

Confirmado o afastamento de Dirceu, a questão é quem o substituirá. Cogita-se o nome do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ponto de equilíbrio na condução da economia. O governador do Acre, Jorge Viana (PT), com bom trânsito com a oposição, seria outra opção.