Título: Ingleses duvidaram dos EUA
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Fonte: Jornal do Brasil, 13/06/2005, Internacional, p. A8
WASHINGTON - A instabilidade no Iraque pós-Saddam Hussein não é surpresa para o primeiro-ministro britânico Tony Blair, principal aliado dos Estados Unidos na guerra. De acordo com reportagem publicada ontem pelo jornal The Washington Post, Blair recebeu, oito meses antes dos primeiros ataques a Bagdá, um documento preparado por colaboradores próximos com o título ''Iraque: condições para uma ação militar''. O texto afirma que ação estava sendo planejada com muita ''rapidez'' e que, por isso, o planejamento da ação foi ''pouco pensado''. O documento segue prevendo que ''a ocupação pós-guerra do Iraque poderia levar a um exercício prolongado e custoso para a reconstrução do país'' e faz um alerta: ''os planos militares americanos são virtualmente omissos nesse ponto [pós-guerra]''. Numa parte intitulada Benefícios e Riscos, o relatório afirma que ''mesmo com uma base legal e um plano militar viável, nós ainda precisaríamos nos certificar de que os benefícios da ação são maiores do que os riscos''.
O material, com oito páginas, foi escrito no dia 21 de julho de 2002 e entregue a Blair dois dias antes de uma reunião do Conselho de Segurança britânico. Ele foi elaborado logo após uma viagem de funcionários do governo inglês a Washington. Os burocratas deixaram claro que consideravam inevitável a decisão do presidente americano, George Bush, de invadir o Iraque, alegando que o regime de Saddam fabricava e armazenava armas de destruição em massa, além de manter laços estreitos com grupos terroristas internacionais.
As dúvidas sobre o nível de planejamento do Pentágono para o pós-guerra foram levantadas também pelo chefe do MI6, o serviço de Inteligência britânico, que afirmou, durante encontro realizado dois dias depois da confecção do relatório, que ''havia pouca discussão em Washington a respeito das ações necessárias depois da ação militar''. Richard Dearlove citava encontros com colaboradores graduados do presidente Bush para justificar seu ponto de vista.
O The Washington Post informou que o memorando, cuja autenticidade disse ter sido confirmada, foi obtido por um repórter do jornal London Sunday Times, que lhe forneceu um resumo. O relatório vem sendo alvo de debates desde que foi publicado pela primeira vez na imprensa inglesa. Oponentes da guerra apontam as revelações como prova de que Bush já estava decidido a ir à guerra antes mesmo de esgotadas todas as vias diplomáticas.
O presidente Bush afirmou ter lido parte do documento, ressalvando que ele foi escrito em meio à campanha pela reeleição de Blair e destacando que tanto os EUA quanto a Inglaterra foram às Nações Unidas repetidas vezes tentar uma saída diplomática para a crise.