Título: Refém é libertada após 5 meses
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Fonte: Jornal do Brasil, 13/06/2005, Internacional, p. A8

PARIS - A jornalista francesa Florence Aubenas, de 44 anos, voltou ontem para casa depois de 157 dias de cativeiro no Iraque. Magra e abatida, porém sorridente, a jornalista do Libération foi recebida na pista da base militar de Villacoublay, nos arredores de Paris, por sua família e pelo presidente francês, Jacques Chirac.

Aubenas e seu motorista, Hussein Hanun Al Saad, haviam sido libertados na véspera, em uma operação classificada pelo embaixador francês em Bagdá, Bernard Bajole, como ''extremamente perigosa''. As circunstâncias da ação, no entanto, não foram divulgadas. O governo se limitou a negar boatos de que um resgate havia sido pago.

Segundo o diretor do jornal Libération, Serge July, que estava no avião que levou Aubenas de volta à França, os seqüestradores percorreram 80 quilômetros com os reféns dentro de Bagdá antes que eles fossem libertados pelos agentes do serviço secreto (DGSE) francês. Eles ainda enfrentaram um contratempo a mais: uma tempestade de areia, que obrigou o avião enviado pela França a decolar com pouca visibilidade no aeroporto de Bagdá.

A jornalista demonstrou bom humor ao desembarcar na base militar, onde foi recebida com aplausos. Disse que se sentia ''muito bem'' e brincou com os colegas da imprensa reunidos no desembarque:

- Olá a todos. Estou, como vocês, esperando os reféns que vão chegar - afirmou.

Ela agradeceu aos franceses e à imprensa pela campanha por sua libertação, que disse ter sido importante para manter sua disposição durante o período. Aubenas contou que ficou a maior parte do tempo de cativeiro com as mãos e tornozelos presos e os olhos vendados, em ''condições severas''. Em um único momento, a venda foi retirada de seus olhos para que ela assistisse a um programa da TV francesa com uma mensagem de apoio a ela.

- Quando se vê uma coisa dessas você fica muito contente - disse, emocionada.

A repórter foi seqüestrada em 5 de janeiro com Al Saad quando deixava seu hotel em Bagdá. Em março, os seqüestradores iraquianos divulgaram um vídeo onde ela, muito abatida, pedia por ajuda. As imagens motivaram uma campanha de solidariedade na França, onde suas fotos ganharam as praças e mensagens de apoio foram publicadas nos jornais. Antes do desembarque, Benoit Aubenas, pai da jornalista, disse que a família nunca perdeu a esperança.

A jornalista romena Jeanne Ion, que ficou refém dos rebeldes iraquianos por 55 dias e foi libertada no mês passado, afirmou ontem pela primeira vez que Aubenas estava presa na mesma cela que ela.

- Ela nos dizia o tempo todo ''claro que não vamos morrer, que vamos sair. Eles não vão nos matar''. Se ela não estivesse lá, teríamos enlouquecido'' - lembrou Ion.

Contrariando o relato, quando repórteres perguntaram a Aubenas se ela tinha visto os jornalistas romenos que dizem ter estado no mesmo cativeiro que ela no Iraque, Aubenas respondeu que não.

Aproximadamente 150 estrangeiros foram seqüestrados no Iraque nos últimos dois anos. Atualmente, cerca de 20 são mantidos em cativeiro. Um deles é o brasileiro João José de Vasconcellos Júnior, feito refém em 19 de janeiro. O engenheiro foi seqüestrado em uma ação dos grupos Brigadas Mujahedin e Exército de Ansar al Sunna, em Beiji, Norte do Iraque.