Título: Falta de celular vira encrenca no exame
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 13/06/2005, Brasília, p. D1

A dificuldade de comunicação entre pais e filhos causada pela proibição da entrada de aparelhos celulares nas salas de prova do 2º Vestibular 2005, da Universidade de Brasília, causou transtornos e confusão. A funcionária pública Giselle Maya Mesquita, 40 anos, por exemplo, teve o carro depredado, na noite de sábado, na porta do Objetivo da 913 Sul, enquanto buscava a filha Gabriella, de 17 anos, que tentava uma vaga no curso de Veterinária. E esse foi só um de muitos incidentes no decorrer do dia. Na saída das provas, às 19h, o congestionamento dos orelhões e os engarrafamentos eram o resultado das medidas adotadas pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) para evitar fraudes. Muitos dos vestibulandos eram menores de idade, alunos do último ano do Ensino Médio, que estavam fazendo a avaliação como teste. Segundo Giselle, na porta do colégio Objetivo formou-se uma fila tripla de carros com pais que aguardavam os filhos. As pessoas esperando estavam preocupadas, pois já era noite e não havia como entrar em contato com os filhos.

Desesperada com a demora, Giselle parou o carro trancando outro, no estacionamento, e foi ver se a filha estava em uma das fila para um dos dois telefones públicos liberados para o uso dos candidatos. Os orelhões do interior do colégio haviam sido lacrados pelo Cespe. Quando voltou, dez minutos depois, o carro estava sendo destruído. A vestibulanda Bruna Santana da Costa, havia quebrado as calotas e o limpador de para-brisas traseiro do carro de Giselle.

- Ela avisou que se eu não tivesse chegado teria quebrado os vidros e destruído o carro - conta a funcionária pública.

Bruna tentou ir embora sem fornecer seus dados. Indignada, Giselle bateu no carro de Bruna, enquanto ela manobrava para sair da vaga. Coincidentemente, as duas se encontraram na 1ª Delegacia de Polícia, da Asa Sul, onde registraram ocorrência da batida. Ontem, Giselle voltou à Delegacia e prestou queixa contra os estragos feitos pela vestibulanda.

Improviso -Antes do início das provas, os vestibulandos eram revistados com detectores de metal. Aparelhos eletro-eletrônicos foram proibidos. Quem levou relógios e celulares foi barrado ao tentar entrar na sala e teve que improvisar para não perder a prova. Apesar de ter sido divulgada nos editais, as novas regras surpreenderam principalmente os vestibulandos de fora do DF.

O estudante Thiago Alves Akitaya, 17 anos, por exemplo, veio de Goiânia (GO) para tentar uma vaga em Engenharia Civil. No primeiro dia de prova, ele levou o celular e arrumou um lugar para escondê-lo, do lado de fora da sala. Thiago afirmou que não sabia das mudanças no edital e que levou o celular, pois não conhece a cidade.

- Fiquei preocupado em ficar perdido na cidade e trouxe o celular - afirmou ele.

A funcionária pública Delvair Alves Brito, 48 anos, teve que voltar ao Iesb, local em que a filha, Patrícia, fazia a prova, para buscar o celular da menina. Patrícia chegou com meia hora de antecedência ao local de prova e, ao tentar entrar na sala, foi barrada por estar com o celular. Ela ligou para a mãe, que teve que buscar o aparelho.

Enquanto esperava o fechamento dos portões, Delvair foi a salvação para outro candidato. Faltando cinco minutos para o início da prova, o vestibulando Tales Motta procurava alguém para ficar com seu celular. Comovida com o desespero do rapaz, Delvair comprometeu-se a guardar o aparelho.