Título: Sobrou para todo mundo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - Teatral, com frases de efeito ensaiadas, gestos estudados, expressões faciais sob medida, o deputado Roberto Jefferson enfrentou o Conselho de Ética da Câmara com um depoimento firmado em três eixos. Ratificou a inocência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao pagamento de mesada a deputados, acusou o ministro José Dirceu e a cúpula do PT pela irregularidade e avisou que reserva outras informações para a CPI dos Correios e do Mensalão. Presidente do PTB, advogado criminalista, abriu brechas aos adversários. Confirmou não ter provas do pagamento da mensalidade de R$ 30 mil a parlamentares do PL e PP pela direção petista. E confessou um crime eleitoral, para o qual também não possui comprovação. Contou ter recebido R$ 4 milhões do PT para reforçar a campanha de candidatos do PTB na eleição municipal, mas não declarou a ajuda financeira aos Tribunais Regionais Eleitorais, por não ter comprovante.

Foram mais de seis horas entre o depoimento e a inquirição de deputados. Na hora inicial, dirigiu a bateria de acusações sobre o chefe da Casa Civil e o presidente do PT, José Genoino. Definiu o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira e o tesoureiro Delúbio Soares como mentores do mensalão. Mesada que seria recebida e distribuída na Câmara pelos presidentes do PP, Pedro Corrêa (PE), do PL, Valdemar Costa Neto (SP), os respectivos líderes, José Janene (PR) e Sandro Mabel (GO) e os deputados Bispo Rodrigues (PL-RJ) e Pedro Henry (PP-MT).

Terno preto, blusa lilás, gravata da mesma cor em tom mais escuro, o presidente do PTB alternou momentos de ironia e mordacidade. Referiu-se a Dirceu como um homem sem palavra. E avançou. Aconselhou o ministro a deixar o cargo, para não transformar o presidente Lula em réu. Roberto Jefferson confirmou todas as conversas com a cúpula do governo, ao longo de 2004, para denunciar a existência do pagamento de mesada aos deputados de PP e PL: Dirceu, Ciro Gomes, Miro Teixeira, Antonio Palocci, Walfrido dos Mares Guia e, mais tarde, Aldo Rebelo. Alegou que decidiu revelar a história ao constatar que o governo o abandonava e estava, colocando em seus braços, e no do partido, a responsabilidade pela corrupção no Poder Executivo.

O presidente do PTB considerou estranho o fato de o governo não ter investigado a diretoria de informática dos Correios, comandada pelo PT, sob indicação de Sílvio Pereira. Assegura que a diretoria comanda 60% das fraudes da estatal. Jefferson afirmou que a bancada do PTB se reuniu para votar o mensalão e fechou questão contra a medida, por orientação dele próprio, do líder José Múcio Monteiro (PE) e do ministro Walfrido Mares Guia.