Título: PTB teria recebido dinheiro irregular na eleição de 2004
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2005, País, p. A4

BRASÍLIA - O deputado Roberto Jefferson complicou a situação de seu partido, o PTB, no depoimento de ontem. Ele admitiu que o partido recebeu dinheiro irregular na eleição do ano passado e revelou que submeteu à análise do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, e à bancada do partido na Câmara a possibilidade de recebimento de uma mesada do PT. De acordo com Jefferson, o PT teria repassado R$ 4 milhões, em espécie, ao partido na eleição do ano passado. Este repasse representaria apenas uma parcela dos R$ 20 milhões prometidos pelo PT ao PTB para ajudar na campanha. O deputado afirmou que o PT daria um recibo para comprovar a saída dos recursos do partido e respectiva entrada no cofre do PTB. Segundo Jefferson, o PT não cumpriu o acerto financeiro nem emitiu recibo da contribuição.

Questionado pelo relator do Conselho, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), sobre a origem da doação, Jefferson disse que os recursos eram provenientes de empresas privadas que tinham relações com o governo.

Mas, em seu depoimento, ele deu novas informações. Segundo ele, José Genoino teria prometido passar notas das doações, mas não o fez; e o ministro José Dirceu (Casa Civil) teria explicado que o dinheiro não foi totalmente repassado porque a Polícia Federal havia prendido os doleiros que ajudariam a trazer o dinheiro para o Brasil.

Neste ponto do depoimento, o deputado relatou então uma conversa que teria tido com o ministro-chefe da Casa Civil. José Dirceu, segundo Jefferson, disse que a Polícia Federal era `tucana¿¿ e que havia prendido `62 doleiros agora na véspera da eleição¿¿, acrescentando que `a turma que ajuda não está podendo internar dinheiro no Brasil¿¿

O Tribunal Superior Eleitoral espera ser provocado, por representação do Ministério Público Eleitoral ou de qualquer partido político, para um eventual processo contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e parlamentares que tenham se beneficiado destes recursos irregulares.

O líder do PTB, José Múcio Monteiro, negou que a bancada tenha se reunido para analisar a proposta de recebimento do mensalão. Mas admitiu que o assunto foi tratado em um encontro informal.

O líder do PTB, contudo, não quis dizer quando esta reunião aconteceu. Quanto à doação dos R$ 4 milhões para o partido, o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), garante que é crime. Segundo ele, que já apresentou uma queixa-crime contra Jefferson no Supremo Tribunal Federal, o presidente do PTB não tem como provar onde gastou o dinheiro, o que indica crime eleitoral.

Em seu depoimento, Jefferson afirma que ouviu do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a existência do mensalão. A notícia teria sido dada na casa de Jefferson, apontando que o dinheiro era repassado aos presidentes e líderes de PP e PL.

¿ O Delúbio citou o Pedro Henry (PP-MT), o Pedro Corrêa (PP-PE) e o Valdemar Costa Neto (PL-SP) ¿ enumerou.

O nome do publicitário Marcos Valério teria surgido após conversas do tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, com Delúbio, quando este garantia que os repasses de recursos tinham dois objetivos: pagar o mensalão e ajudar os aliados nas eleições.

¿Sublimei o mandato, não vou lutar por ele¿, afirmou Jefferson, consciente de que está isolado no partido.

Após assistir ao depoimento de Jefferson ¿na casa de um amigo¿ e ao lado do tesoureiro do partido, Delúbio Soares, o presidente do PT, José Genoino, negou o repasse para o PTB, mas admitiu ter tratado de ¿apoio material¿ nas cidades onde PT e PTB estavam coligados, ¿tipo programa de TV, camisetas, folhetos¿.

¿ A planilha era a relação de cidades onde íamos fazer campanha conjunta. Jamais repasse de dinheiro para o PTB. Era a divisão de despesas - garantiu.