O Globo, n. 32791, 18/05/2023. Política, p. 7
Planalto foca na classe média com redução do preço de combustíveis
Jeniffer Gularte
Ao anunciar uma nova política que vai reduzir o preço dos combustíveis no país, o governo põe na rua uma das medidas que planeja para conquistar a classe média, segmento em que mais de um terço dos brasileiro o reprova, e melhorar a relação com o Congresso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus auxiliares têm a expectativa de que a iniciativa diminua o preço do frete, impacte no valor dos alimentos e no custo direto para motoristas de aplicativos.
Pesquisa Datafolha divulgada no fim de março mostrou que 36% dos que ganham de dois a cinco salários mínimos reprovam o presidente Lula, índice que é de 47% na população com renda familiar mensal de cinco a dez salários, por exemplo. Na média geral, a taxa dos que avaliam a gestão como ruim ou péssima é de 29%.
Desde a campanha, o petista vem tentando fazer acenos a essa parcela do eleitorado, mais afeita ao expresidente Jair Bolsonaro. O atual presidente já deu declarações que geraram desgastes com o segmento. Numa ocasião, ele disse que esse estrato de brasileiros “ostenta um padrão de vida que em nenhum lugar do mundo a classe média ostenta”. Numa tentativa de corrigir a rota e atrair tal camada da população, Lula deu recado aos ministros sobre a importância de propor políticas públicas voltadas a esse público que não sejam mera reprise do que já foi feito em gestões anteriores.
Prioridades
As iniciativas debatidas durante esse primeiros meses de governo incluem regras para baixar taxas de juros do cartão de crédito e condições especiais para empréstimos bancários. O Palácio do Planalto avalia que há a necessidade de priorizar medidas que representem algum nível de melhora de vida para a classe média, setor que não foi contemplado por programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Mais Médicos.
A nova política de redução de preço de combustíveis, avalia um auxiliar, foi a forma encontrada pelo governo, que não tem autonomia para interferir na política monetária do Banco Central, de fazer uma governança da Petrobras capaz de tirar pressão da inflação, o que favorece um cenário futuro de redução de juros.
Integrantes do governo mais cautelosos, no entanto, ponderam que será preciso observar nas próximas semanas se parte da redução será ou não compensada pela fixação das alíquotas do ICMS sobre a gasolina e etanol anidro, que devem entrar em vigor em junho.
A redução do preço do combustível é também uma bandeira do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Em junho do ano passado, o deputado chegou a cobrar a renúncia do então presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, e dizer que a empresa estava em “guerra ao povo brasileiro” por conta do aumento no preço dos combustíveis da época.
O anúncio das mudanças na Petrobras ocorre na semana em que o governo espera votar o regime de urgência do arcabouço fiscal na Câmara, principal prioridade do Planalto no Congresso. Como pano de fundo, o Planalto tenta azeitar sua base acelerando a liberação de emendas a deputados e senadores e destravando a nomeação de cargos de segundo e terceiro escalão. Uma eventual melhora de popularidade do presidente e do ambiente econômico, teria reflexos imediatos na relação do governo com a base, avaliam auxiliares palacianos, o que será fundamental para o governo aprovar tanto o novo marco fiscal e a reforma tributária.