Título: Renda em queda faz comércio desacelerar
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2005, Economia & Negócios, p. A19

Sob impacto da retração da renda, o volume de vendas do comércio varejista caiu 0,23% em abril frente a março, já excluídos os efeitos típicos deste período do ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em março, o setor havia registrado alta de 1,37%, depois de dois meses em queda. Em relação a 2004, o comércio segue apresentando taxas positivas, mas com clara desaceleração. As vendas cresceram 3,4% comparadas com abril de 2004 - em março, haviam subido 7,72%. Este é mais um indicador que pode influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião que começou ontem e termina hoje. A expectativa da maioria dos analistas do mercado financeiro é de que a decisão dos economistas do BC seja pela manutenção da taxa básica de juros (Selic), em 19,75% ao ano.

O fraco desempenho do setor de super e hipermercados e demais lojas de alimentos puxou as vendas do comércio para baixo. O volume de vendas do segmento, o de maior peso no varejo, caiu 0,47% em relação a março. Houve retração também na comparação anual, de 1,22% ante abril de 2004. É a primeira vez que a taxa foi negativa desde novembro de 2003.

Para o IBGE, a queda do rendimento do trabalhador apontada pela Pesquisa Mensal de Emprego (1,8% frente a março) explica o recuo das vendas de supermercados, dependentes de aumento da massa salarial.

- A queda da renda afetou o comércio em abril - disse Reinaldo Silva Pereira, economista do IBGE.

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a inflação mais alta nos quatro primeiros meses do ano também reduziu o poder de compra dos consumidores, com reflexos nas vendas de bens não-duráveis (alimentos, bebidas e outros).

Por outro lado, o crédito farto compensou o aumento dos juros e levou a um crescimento das vendas de móveis e eletrodomésticos, avalia Freitas. As vendas das lojas de móveis e eletrodomésticos subiram 1,06% na comparação com março, já com o ajuste sazonal: alta de 23,93% ante abril de 2004.

Na visão do economista da CNC, os indicadores mostram que ''o comércio está parado, estagnado, mas num patamar elevado de vendas'' graças à expansão em 2004 (9,25%).