Título: Sem 'bomba', mercado respira
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2005, Economia & Negócios, p. A19
SÃO PAULO - O dia começou tenso no mercado financeiro, à espera de más notícias no campo político. Mas a falta de provas contra o governo, acusado de pagar mesada a parlamentares em troca de apoio político, bastou para fazer os negócios se recuperarem do que se pôde chamar ontem de ''Efeito Jefferson''. Com isso, no final do dia, o dólar fechou novamente em queda frente ao real (-0,53%), mantendo a tendência dos últimos dias, e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) experimentou o maior avanço desde 24 de fevereiro, fechando em alta de 3,38%. - O mercado entendeu que o depoimento não foi consistente, não trouxe novidades, provas, como alguns temiam - afirmou Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora.
Com isso, os investidores não viram motivos para manter suas posições defensivas, ou seja, ficar com dólares em carteira. Assim, o dólar fechou negociado a R$ 2,435 na venda, depois de ter atingido a máxima de R$ 2,47 no dia.
Na bolsa, o movimento foi semelhante. Depois de uma queda de até 2,3%, por volta das 15h30, os investidores voltaram com o movimento de compra.
- Além do fluxo positivo, o depoimento reafirmando a falta de provas colaborou para mais uma valorização do real - afirmou Francisco Carvalho, gerente da mesa de câmbio da corretora Liquidez. - Se o cenário político permanecer o mesmo, com denúncias mas sem apresentação de provas, o dólar pode até não cair muito, mas também não terá força para subir.
Os investidores estrangeiros também melhoraram a percepção de risco do Brasil. No mercado de títulos públicos, os principais papéis da dívida externa brasileira fecharam em alta. O Global 40 se valorizou 0,16%, negociado a 118% do valor de face. O C-Bond subiu 0,18%, a 101,875% do valor de face. No fechamento do mercado doméstico, o risco país recuava 1,13%, para 417,96 pontos-base.
Além da falta de provas, também colaborou para a melhora de humor dos investidores, boatos de que o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, deixaria o cargo. A notícia, no entanto, não se comprovou até o fim da noite de ontem.
Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), a expectativa é pela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que termina hoje e define possíveis mudanças na taxa básica de juros (Selic). Atualmente, a taxa está em 19,75% ao ano. No mercado futuro, os contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) para julho - que refletem as apostas para o Copom - fecharam estáveis em 19,77%, ao ano, o que indica que a maioria dos analistas está apostando na manutenção da taxa no atual patamar.
Com os investidores mais otimistas, as projeções de juros mais longos fecharam em queda. O DI janeiro de 2007 - o mais líquido - recuou de 17,77% para 17,67%.