Título: Locomotiva da energia limpa
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2005, Economia & Negócios, p. A21
O prazo do compromisso junto ao governo é em 2008, mas a Companhia Vale do Rio Doce anunciou o início do uso do biodiesel para este ano, numa proporção dez vezes maior do que a estipulada pelo Programa Nacional de Produção e Uso de Biocombustíveis. Os investimentos de US$ 120 milhões da mineradora em tecnologia de logística incluem a adição de 20% do combustível limpo sobre o total de óleo diesel. A meta do programa federal é inserir 2% do biodiesel na mistura de combustíveis em até três anos. O projeto começa a ser implantado nos trens que transportam carga na Estrada de Ferro Vitória-Minas. A Vale também estuda produzir o combustível em fazendas no Norte.
A iniciativa da companhia é essencial para fazer deslanchar o programa do governo. Sem contar com as ferrovias que opera ou em que tem participação, a Vale consome mais de 40% - ou 970 milhões de litros - do diesel que abastece todo o sistema ferroviário. A MRS, na qual a mineradora detém uma fatia, consome mais 23% - 228 milhões de litros - do combustível destinado às ferrovias.
A implementação do biodiesel exigirá adaptação dos trens e construção de postos de abastecimento.
- O desafio é adequar as máquinas para usar o biodiesel corretamente - afirma o diretor do Departamento de Operações de Logística da Vale, Eduardo Bartolomeo.
A empresa anunciou, durante a 8ª Conferência Internacional de Ferrovias de Transporte de Cargas, no Riocentro, que testou a adição de biodiesel em duas locomotivas. A mineradora informou ainda que o maior trem das Américas, com extensão de 3,2 quilômetros e peso de 39 mil toneladas, começa a rodar no terceiro trimestre de 2006. Com 312 vagões, o segundo maior trem do mundo atenderá à crescente demanda da produção de Carajás, no Pará.
Hoje a produção de 70 milhões de toneladas de minério de ferro é transportada por 10 trens. A expectativa é aumentar a produção para 100 milhões de toneladas de minério.
De acordo com a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o Brasil tem potencial de apresentar 30% do transporte de cargas abastecido por ferrovias. O percentual hoje é de 24%, enquanto no mundo o número é de 40%. Para melhorar a estrutura ferroviária, a ANTF estima que sejam necessários nos próximos quatro anos R$ 11,3 bilhões, dos quais R$ 7 bi devem partir da iniciativa privada e outros R$ 4,3 bi, do governo.