Título: Brasil dependerá da Bolívia até 2008
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2005, Economia & Negócios, p. A21
O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, anunciou ontem que a estatal não produzirá gás na Bacia de Santos antes de 2008, como quer o governo. O executivo admitiu que, com isso, nos próximos três anos o país continuará a depender do insumo importado da Bolívia. Do ponto de vista técnico, justificou Dutra, são necessários pelo menos quatro anos, desde a descoberta - ocorrida em fins de 2003 - para desenvolver os campos de Mexilhão (antigo BS-400) e BS-500, que demandarão investimentos de US$ 1 bilhão. Embora esperado por analistas do setor, tal fato não deixa, segundo eles mesmos, de ampliar o risco de desabastecimento do insumo no país, em caso de recrudescimento da crise na Bolívia. O Brasil importa diariamente 24 milhões de metros cúbicos de gás natural, por meio do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), que tem capacidade para 30 milhões de metros cúbicos/dia.
O presidente da Petrobras afirmou que a empresa ainda não concluiu os estudos que poderão resultar em parceria com a espanhola Repsol para produzir gás em Santos. A despeito das conclusões do estudo, revelou, a estatal já começou a desenvolver o projeto técnico do Campo de Mexilhão, o primeiro a ser colocado em produção na região.
- Entre a descoberta e o início da produção de Santos, vamos ter um intervalo de quatro anos. Em termos de descobertas de gás, isso é quase que um recorde - justificou o executivo, ao lembrar dos obstáculos técnicos para uma eventual antecipação da produção para 2007.
Com relação à crise na Bolívia, Dutra procurou minimizar os riscos de desabastecimento no Brasil. Ele lembrou que a situação naquele país melhorou nos últimos dias, o que contribui como sinalização positiva para o mercado. De qualquer maneira, ele descartou o fim do plano de contingência anunciado na última semana para minimizar o impacto da crise.
Dutra confirmou que, em caso de desabastecimento, o plano prevê que as indústrias terão que substituir o gás natural por outros combustíveis. Ele também admitiu que o plano inclui, em caso extremo de crise, o corte no fornecimento de gás natural veicular (GNV).
O consultor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), Adriano Pires, concorda com Dutra quanto à impossibilidade de produção do gás antes de 2008. Ele sugere, porém, que o governo adote, nos próximos três anos, medidas que minimizem a dependência da Bolívia.
Além de editar a nova lei do gás natural, que daria maior segurança aos investidores, Pires sugere a adoção de uma política de combustíveis para o país, que permita ao consumidor escolher a alternativa mais apropriada a cada mercado.
- Se fossem levadas em conta só o mercado, o Rio, com a Bacia de Campos, tem no GNV uma alternativa barata. Já São Paulo tem no álcool seu melhor combustível, já que é o estado com grande número de usinas. Isso contribuiria para desenvolver o mercado sem pressões sobre a oferta do gás.