Título: Surpresa na reta final ameaça favorito
Autor: Rozane Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 17/06/2005, Internacional, p. A7
Qualquer candidato sabe que cantar vitória antes de fechadas as urnas é erro básico. Vale para o Irã, onde o povo tem na ponta da língua um antigo provérbio: não conte suas galinhas antes do fim do outono. Um dos candidatos ao cargo de presidente do país, o médico e educador Mostafa Moin, já disse, literalmente, durante sua campanha, que só vai contar suas galinhas hoje, quando 47 milhões iranianos vão às urnas. Considerado o mais progressista dos candidatos, Moin é uma ameaça real ao favoritismo do moderado Akbar Hashemi Rafsanjani, com quem deve ir para o segundo turno. Ele também pode ser o elemento neutralizador do alto índice de abstenção esperado no país em que eleger um novo presidente vale mais pelo processo democrático em si do que pela esperança de alguma mudança real.
A escritora iraniana radicada no Havaí, Farideh Farhi, explica ao Jornal do Brasil que a presença de Moin na disputa pode vir a motivar os eleitores a saírem de casa. Por mais que todos saibam que o presidente não tem muito espaço para negociações com o parlamento e com o Guia Supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Por mais que muitos estejam, segundo ela, sem esperanças.
- Foi o que aconteceu com Mohamed Khatami (o atual presidente). Todos esperavam que fosse cumprir suas promessas de campanha, e não houve muitos avanços. Mesmo assim, o fato de um homem como Moin estar tão bem cotado vai fazer diferença. Acho que podemos esperar que ele vá para o segundo turno com Rafsanjani. Mesmo que não ganhe, a discussão que provocou já terá sido um ganho - diz.
Farideh tem 60 anos e deixou seu país aos 16. Ela não pode votar em Honolulu, mas Moin é seu preferido. Por telefone, de Chicago, o também escritor iraniano Kaveh Ehsani, discorda. O que ela chama de falta de esperança, ele está convencido de que é uma forma de protesto.
- O iraniano não tem mais nenhuma ilusão hoje. Mas não creio que seja uma questão de falta de esperança. O que estamos vendo é um protesto silencioso do povo.
O escritor está convencido de que a única forma de se avançar em reformas é mobilizando a sociedade e mesmo a comunidade internacional para pressionar pela instituição de uma democracia real no Irã. Mas não inclui os EUA.
- Você acha, mesmo, que os EUA estão interessados em nos ajudar a termos uma democracia de verdade? E correr o risco de ter aqui um povo com vontade própria?
Kaveh Ehsani tem 45 anos e mora nos EUA há 27. Hoje, ele vai votar em Moin de Chicago. Quanto ao desenvolvimento de energia nuclear em seu país, os dois defendem o Irã.
- Seria estupidez abrir mão das nossas pesquisas - diz Kaveh Ehsani.