Título: 'Meu coração parou'
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/06/2005, Internacional, p. A9

SIEM REAP - ''Por volta das 9h30 quatro homens, um deles armado, entrou na sala de aula de meu filho. Eles trancaram a porta e o fizeram refém, junto com outros 20 alunos, com idades entre dois e seis anos, uma professora e uma assistente.

A polícia chegou ao local muito rapidamente e a notícia logo chegou aos pais, já que um deles estava na escola naquela hora preparando a cerimônia de domingo, de encerramento do ano acadêmico.

Eu cheguei com meu marido e meu cunhado e já havia muitos pais do lado de fora do prédio - cerca de 40 ao todo.

Não podíamos ver o que estava acontecendo lá dentro, o que claro nos deixou muito nervosos.

Assim que tive meu filho nos braços ele me olhou e disse: 'Mamãe, minha escola está quebrada'. Mais tarde ele repetiria isso a mim. É tudo o que ele tem dito desde então.

A polícia não podia nos informar o que estava acontecendo, já que estavam ocupados negociando com os sequestradores por rádio.

Quando ouvi o primeiro tiro, senti meu coração parar.

Ouvimos dois disparos inicialmente dentro da escola, o que nos deixou ainda mais preocupados. Meu maior medo era de que matassem todas as crianças.

Aparentemente estavam atirando no telhado do prédio, mas ainda não sabíamos direito.

Por volta das 14h30 os seqüestradores concordaram em deixar a polícia levar a van para dentro do colégio. Meu cunhado entrou com eles. À essa altura já havia muito mais gente do lado de fora e não foi fácil para a polícia mantê-los afastados, foi assim que Sok Tonh conseguiu ir com eles.

Houve uma certa confusão e naquele momento meu cunhado viu meu filho saindo da escola e o pegou.

Ele foi a primeira criança a sair e Sok Tonh o deu a meu irmão, que o trouxe para meus braços. Foi um ato de muita bravura. Fomos direto para casa. Na medida em que nos afastávamos podíamos ouvir o barulho de tiros vindo do colégio. Quanto a meu filho, ele está visivelmente perturbado. Parece estar chocado. Hoje (ontem) foi um longo e traumático dia.

Tan Seok Ho, mãe do menino Lyvong, em depoimento à BBC