Título: EUA aceitam mais duas vagas permanentes
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/06/2005, Internacional, p. A12

WASHINGTON - Numa decisão surpreendente, os Estados Unidos anunciaram ontem que apoiarão uma ampliação do Conselho de Segurança da ONU incluindo dois novos membros permanentes, porém sem direito a veto. Um deles, de acordo com o anúncio, seria o Japão. O segundo assento, informaram diplomatas ouvidos por agências internacionais, pode ser da Índia, mas o Brasil também tem chances. O quarto postulante, a Alemanha, perdeu a vaga pela razão oposta à da entrada dos japoneses, que se tornaram aliados na invasão do Iraque. Hoje, têm direito a veto, além dos EUA, China, França, Rússia e Grã-Bretanha.

A informação foi divulgada pelo subsecretário de Estado Nicholas Burns. Segundo Burns, os EUA apresentarão na semana que vem um projeto sobre os critérios para a admissão de novos membros. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reagiu à iniciativa convidando Washington a trabalhar em cooperação com os outros Estados, em vez de atuar por conta própria:

- Esta é uma organização com integrantes grandes e pequenos, e nosso modo de agir consiste em discutir e chegar a acordos antes de avançar. Se os EUA têm propostas, deveriam discuti-las antes com os outros.

A ampliação é uma das várias reformas previstas na proposta feita por Annan em março, a fim de serem aprovadas na reunião de cúpula mundial, em setembro, em Nova York. O G-4 (Brasil, Alemanha, Índia e Japão), que briga por vagas permanentes, havia encaminhado proposta diferente, com a ampliação dos 15 membros atuais para 25, com seis novos postos permanentes (ao contrário dos dois propostos pelos EUA) destinados aos países do G-4 e a dois africanos.

O anúncio evidenciou uma disputa entre o plano da Casa Branca e a estratégia do G-4, que ameaçava votar na semana que vem uma estrutura básica do novo modelo, que seria seguida de nova e definitiva votação após algumas semanas de debate. O plano tem o apoio da Grã-Bretanha e da França. Para Nicholas Burns, no entanto, não há a menor chance de que isso possa acontecer:

- Não consideramos esse modelo do G-4 algo digerível - avaliou o subsecretário de Estado.

Fontes da Casa Branca afirmaram que o plano de Bush enterra as pretensões alemãs e que a segunda vaga seria destinada a um país em desenvolvimento. Nesse perfil, a Índia despontaria como favorita, em função da afinidade política entre Washington e Nova Délhi. Diplomatas ouvidos na ONU, no entanto, avaliam que a indicação sofreria grande resistência por parte das 53 nações do grupo africano e dos 34 integrantes do grupo de países latinos-americanos e do Caribe. Quanto ao nome do Brasil, os mesmos funcionários afirmam que Washington não tem ainda uma opinião formada. Qualquer alteração no conselho deve ser aprovada por dois terços da assembléia e pelos cinco membros permanentes.

Washington promete detalhar os critérios que considera ideais para os candidatos na semana que vem. Sabe-se, no entanto, que itens como o tamanho do país, a população, a capacidade militar e o potencial para contribuir às missões de paz deverão ter bastante peso. Outros fatores como o histórico de democracia de direitos humanos, a contribuição financeira à ONU, a atuação na luta contra o terror e contra a proliferação nuclear igualmente seriam apreciados. Em tese, as pretensões brasileiras se encaixariam em tais características, segundo analistas.

- Essa é uma idéia americana, mas esse é só um dos assuntos dessa reforma. Queremos ver progressos nas discussões em todos os outros antes de chegar ao conselho. Não trataremos de um sintoma antes de curar a doença - emenda Burns, acrescentando que o modelo Bush prevê três vagas não permanentes.