Título: Escola técnica abandonada
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 17/06/2005, Rio, p. A14

Para dar aula ontem, um professor da Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá, em Marechal Hermes, precisou tirar do próprio bolso R$ 6,50. O dinheiro foi usado para comprar uma centena de parafusos. Esse não é o único material que falta na escola. Professores, pais e estudantes denunciam que a unidade, uma das 15 escolas técnicas administradas pela Fundação de Apoio às Escolas Técnicas (Faetec), está abandonada. Na manhã de hoje, professores e estudantes se unem no Instituto Superior de Educação do Rio (Iserj), na Praça da Bandeira, em protesto contra as condições de trabalho e o sucateamento das unidades. Segundo alunos da Visconde de Mauá, os problemas da unidade vão além da falta de material. Os prédios do complexo de Marechal Hermes, que abriga a Escola Técnica Oscar Tenório, estão em péssimas condições de estrutura física.

- Há rachaduras na sala. Quando chove é um perigo, o chão fica com poças d' água e o interruptor da parede está descoberto - contou o estudante Hélio Ricardo Nascimento Farias, 17 anos.

Por causa das fiações expostas nas salas, a estudante Aleide Caetano, 21 anos, lembra que, recentemente, um colega se assustou com um curto-circuito e caiu da cadeira. Segundo os alunos, numa outra turma, há um mês, o professor de geografia dava aula enquanto rebocos caiam da parede.

- O ginásio está desativado e virou depósito de cadeiras velhas - contou Aleide.

Segundo a Faetec, uma equipe de patrimônio da unidade está analisando cada cadeira recolhida do pátio. As identificadas como sucata serão separadas e doadas. As que ainda têm condições de recuperação serão reformadas. Integrante do grêmio estudantil, Leonardo Luiz Jesus de Souza, 20 anos, reclama dos troncos de árvores que foram cortados e deixados no pátio e da falta de um local para praticar esportes.

- O atletismo é improvisado nas quadras. O ginásio não tem também altura média para as aulas de vôlei e basquete - comentou Leonardo.

De acordo com professores da unidade, até semana passada eles ainda não tinham recebido os diários escolares. Alguns dizem que é preciso levar papel higiênico de casa e que folhas para que os alunos façam as provas também faltam.

- Certa vez, faltava papel para as provas. Como sobrava biscoito na unidade, conseguimos uma permuta com o quartel do Exército. Eles nos deram papel colorido em troca dos biscoitos - contou uma professora.

Os professores também reclamam da falta de material para os laboratórios. Nos últimos três anos, juntos, dois professores já gastaram R$ 1, 6 mil com compras de material. A Faetec alegou que existe um processo de compra de material para os laboratórios das unidades de Marechal Hermes, em andamento, na Diretoria de Suprimentos. Integrantes da Associação dos Pais e Ex-Alunos denunciam também que o número de bebedouros é insuficiente e não têm filtros.

- O problema de sucateamento vem se arrastando há anos. Já tentamos reclamar com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (que está vinculada à Faetec), mas não adiantou - protestou uma mãe.

De acordo com Antônio Cláudio Dantas Menezes, integrante da Associação dos Profissionais de Educação da Faetec, o sucateamento da unidade se assemelha ao das outras 14 escolas técnicas da rede. São 33.512 alunos distribuídos em 40 cursos diferentes. Segundo ele, as unidades estão sendo abandonadas em detrimento dos Centros de Educação Tecnológica e Profissionalizante (Ceteps). Segundo a Faetec, são 179 cursos profissionalizantes com duração entre três e cinco meses.

- Enquanto os Ceteps vão de vento em poupa, as escolas técnicas funcionam nas mínimas condições. Esta política mostra interesses supostamente eleitoreiros já que os Ceteps são destinados às comunidades carentes - disse Menezes.