Título: Construção desaba com aperto fiscal
Autor: Marina Ramalho
Fonte: Jornal do Brasil, 17/06/2005, Economia & Negócios, p. A22
O setor da construção registrou em 2003 uma queda real de 17,8% no valor das obras executadas, em relação ao ano anterior. O forte recuo no desempenho do setor foi apontado na Pesquisa Anual da Indústria da Construção - 2003 (PAIC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem. O principal fator da retração foi o expressivo encolhimento da participação do governo na contratação de obras, sobretudo no setor de infra-estrutura.
Em 2003, o setor de construção registrou 119 mil empresas, que empregaram 1,4 milhão de pessoas com remuneração média de 4 salários mínimos. O valor nominal (sem contar o efeito da inflação) de todas as obras atingiu R$ 73,8 bilhões em 2003, contra R$ 76,9 bilhões no ano anterior. Do total registrado em 2003, 41% (R$ 30,7 bilhões) vieram das obras contratadas por entidades públicas. No ano anterior, a demanda havia sido 29,5% maior.
- Os dados estão em linha com a performance econômica do país no período: 2003 foi ano de transição, o primeiro do novo governo, que adotou políticas monetária e fiscal restritivas, visando ao controle da inflação - ponderou Silvio Sales, Coordenador de Indústria do IBGE. - Num setor que depende tanto de investimentos públicos diretos e linhas de financiamento de longo prazo, a queda de desempenho era esperada - completa.
Segundo dados do Sistema de Contas Nacionais, os gastos do governo - nas três esferas - com a atividade de construção atingiram 12,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2003, enquanto em 2002 o percentual era de 16,1%. No período, o PIB da construção caiu 5,2%.
As atividades de edificações e de infra-estrutura, somadas, mantiveram a participação de 78% no total das obras entre 2002 e 2003. Mas os valores movimentados pelas edificações cresceram de 38,8% para 42,9% do total. As atividades de infra-estrutura caíram de 39,1% para 35,1%.
No conjunto de obras de infra-estrutura, a queda mais significativa foi do item ''obras viárias'', com variação negativa de 23,4%, Na categoria, investimentos em ''ruas, praças e calçadas'' caiu 52,4%.
Com a participação do governo caindo de 70,6% para 62% em infra-estrutura, o setor privado teve maior ganho em 2003, elevando a participação de 29,4% para 38%. Mas a expansão privada não foi suficiente para manter o desempenho de 2002.
- Em 2004, a participação da construção no PIB mostrou recuperação, de 7,2% para 7,5% (considerando participação do trabalho informal). Não vejo tendência de grande expansão do setor privado na área de infra-estrutura, pois há atividades nesse campo não atraentes para o setor privado - argumenta Salomão Quadros, Coordenador de Pesquisas Econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV)
Nas obras de edificações, seu crescimento se deveu principalmente ao recuo das obras de infra-estrutura, porque a demanda pelas edificações continuou estável. Construções residenciais foram a principal atividade da categoria, com crescimento nominal (sem contar o efeito da inflação) de 6,6% em 2003, ante queda de 4% no total da construção.