Título: Falta gás para a indústria brasiliense
Autor: Bruno Arruda
Fonte: Jornal do Brasil, 17/06/2005, Brasília, p. D3

Os ventos fortes que impulsionavam a economia e inflavam as velas da indústria local parecem ter arrefecido. A Federação das Indústrias de Brasília (Fibra) atribuiu a queda de 6,06% no faturamento da indústria no mês de abril em relação a março à acomodação do ritmo de expansão do mercado interno e à diminuição da demanda de outros estados. Foi uma retração considerável depois das altas de fevereiro e março, de 3,07% e 2,01%, respectivamente. - Principalmente nos segmentos de alimentação, processamento de grãos, vestuário, tecnologia da informação e construção civil houve forte desaquecimento - citou o vice-presidente da Fibra, Dario Clementino.

Dos onze segmentos observados pela pesquisa, cinco apresentaram recuo nas vendas. A mais acentuada foi no processamento de grãos, que perdeu 25,38% do faturamento. O DF processa parte do café cultivado na região e, nos meses passados, vinha abastecendo o Nordeste. Em abril, a demanda não foi tão grande.

Os outros setores com retração no faturamento foram o de metal-mecânico (-1,87%), tintura e lavanderia (-3,56%), tecnologia da informação (-3,34%) e diversos, em que estão incluídas as indústrias químicas e farmacêuticas, entre outras (-5,62%).

As indústrias de eletroeletrônicos e madeira e mobiliário foram as que mais cresceram: 12,7% e 7,72%. De acordo com Clementino, são ambas beneficiárias do crédito consignado, que permitiu a contração de empréstimos a juros mais baixos que o praticado no mercado com facilidades como desconto na folha de pagamento e prazos extensos, que agora começa a maturar.

- Os sinais de saturação do crédito consignado fazem diminuir as compras e isso reflete no desempenho industrial - explicou o empresário.

Expectativa - Clementino acredita que os indicadores do mês de maio serão positivos.

- Houve aumentos de salário e os reajustes das convenções coletivas - lembrou o empresário.

Em médio e longo prazo, no entanto, o horizonte é mais nebuloso. O vice-presidente da Fibra explica que a instabilidade política pode ter efeitos negativos. Há ainda contra o crescimento a acomodação da demanda interna, influenciada pelos juros e pela quase estagnação no nível de emprego. Por outro lado, alguns fatores podem repercutir favoravelmente. A MP do Bem, por exemplo, assinada anteontem, pode estimular o crescimento, ao desonerar os investimentos produtivos.

Existe a perspectiva de contratações governamentais na área de construção civil. O setor, que havia crescido 21,6% no mês anterior, não passou de 1,11% em abril. A retomada do Metrô-DF, a nova Rodo-ferroviária e as Parcerias Público-Privadas, entre outros investimentos públicos, podem, segundo Clementino, gerar 18 mil novos empregos. O segmento emprega hoje, no DF, 32 mil pessoas.

Reforma do bem - - Dario Clementino fez coro, na apresentação dos números da indústria em abril, às crescentes - ainda que históricas - reivindicações do setor por menos impostos. Chamou de reforma tributária do bem aquela que consideraria três pontos em sua elaboração: simplicidade, amplitude e justiça.

- Não existe, hoje, um brasileiro que compreenda completamente o ICMS - disse.