Título: Campanha pelo desmamamento
Autor: Alfredo Ruy Barbosa
Fonte: Jornal do Brasil, 16/06/2005, Outras Opiniões, p. A11

O governo federal lançou, recentemente, uma campanha para reprimir o desmatamento da ''nossa Amazônia'' (viu, Bush? Nossa!). Mas isso é só para fingir, perante o mundo, que o governo está fazendo alguma coisa para combater a destruição das nossas matas. Como simples cidadão, proponho, no entanto, uma nova (e real!) campanha: a do ''desmamamento''. É uma modesta tentativa de provocar uma reação do nosso povo contra os inúmeros assaltos praticados pelos ''homens públicos'', que ''mamam'' o nosso dinheiro sem qualquer vergonha ou constrangimento. Se, por um lado, precisamos, de fato, impedir a destruição das nossas matas, por outro, precisamos, também, derrubar as ''mamatas'' desses ladrões.

É insuportável para pessoas honestas imaginar que deputados e senadores só votam algum projeto de lei se receberem uma ''graninha'' ou um ''favor'' do governo. Esse voto virou simples arma de troca. Há raras e honrosas exceções, mas a grande maioria desses ''homens públicos'' pensa e age assim: ''Se me derem uma ''verbinha pessoal'', aperto o botão do ''sim'' sem sequer olhar para o texto do projeto''.

Os brasileiros precisam se organizar contra esse cenário tenebroso. Podemos, por exemplo, promover uma grande passeata até o Congresso para demonstrarmos a nossa indignação em face dos vários assaltos praticados por indivíduos que têm a obrigação moral e cívica de tratarem os recursos públicos com seriedade e honradez, e de punirem, com todo rigor, aqueles ''coleguinhas'' que roubam o dinheiro arrecadado com os inúmeros impostos, que - como o nome diz - nos são ''impostos'' goela abaixo a fim de gerar mais verbas para as mordomias de ''suas excelências''.

Aliás, alguém conhece alguma verdadeira ''excelência'' na política nacional? Quem saberia reconhecer, prontamente, algum estadista neste país? Vejam bem: refiro-me a um estadista e não a um político - conceitos bem diversos um do outro. Nosso grande Ruy Barbosa esclareceu essa distinção, com a lucidez de sempre: ''Quando praticamos uma boa ação, não sabemos se é para hoje ou para quando. O caso é que os seus frutos podem ser tardios, mas são certos. Uns plantam a semente da couve para o prato de amanhã; outros, a semente do carvalho para o abrigo do futuro. Aqueles cavam para si mesmos. Estes lavram para o seu País, para a felicidade de seus descendentes, para o benefício do gênero humano.''

Confesso que sinto uma certa nostalgia dos tempos em que os nossos jovens eram mais politizados. Infelizmente, as associações estudantis foram dizimadas pelo golpe militar de 1964, com o objetivo de alienar essa poderosa massa de opinião. Mas, num momento histórico para o país, revivemos, em 1990, a época em que a juventude ia para as ruas protestar contra a imoralidade dos políticos. Foi na famosa campanha dos ''caras pintadas'', que ajudou a derrubar o vergonhoso governo Collor.

Mas o regime de 64 afastou, também, do meio político os cidadãos honestos que, por razões éticas, não aceitaram participar da ''armação'' bipartidária criada, na época, para fingir que havia uma democracia no Brasil. Foi assim que os aproveitadores invadiram a política e iniciaram uma onda de assaltos ao nosso dinheiro, sob a constante proteção de uma impunidade igualmente vergonhosa. Precisamos agora reagir contra o governo ''Lulla'' (ressalvo, por ora, o próprio).

Esses ''homens públicos'' não podem continuar mamando nas nossas tetas. ''Quem sabe faz a hora e não espera acontecer''. Portanto, vamos lutar, de alguma forma, para impor o ''desmamamento'' do nosso dinheiro!