Título: Crise do gás ressuscita botijão
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 16/06/2005, Economia & Negócios, p. A20
Mesmo com o arrefecimento da crise na Bolívia, as indústrias brasileiras já começaram a se antecipar a um eventual desabastecimento de gás natural no país. Com isso, um setor que vinha amargando retração das vendas nos últimos meses, o de gás liqüefeito de petróleo (GLP), já começa a ressuscitar. Diretor-presidente da subsidiária brasileira da SHV, proprietária das marcas Supergasbrás e Minasgás, Lauro Cotta revela que, neste mês, as vendas desse produto - que, para consumidores residenciais, é comercializado em botijões - deverão superar o volume de junho do ano passado (556 mil toneladas), o que deverá reverter uma tendência de retração de demanda de 2,2% nos primeiros cinco meses deste ano. Em maio deste ano, o volume de vendas de GLP no Brasil limitou-se a 531 mil toneladas. Só para ficar no exemplo da SHV, Cotta - que também é diretor do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liqüefeito de Petróleo - revela que, só na semana passada, quando eclodiu a crise boliviana, a distribuidora foi procurada por vários dos antigos clientes, dispostos a reinstalar ou reutilizar os granéis para armazenagem do produto. Além do próprio segmento residencial, revela Cotta, o rol de clientes inclui o comércio e a indústria, preocupados em preservar os lucros da crise boliviana.
- É óbvio que esperamos uma solução o mais rapidamente possível para a crise da Bolívia, mas as empresas do setor já começam a sentir os efeitos nos negócios. É natural que fique um certo trauma depois do que ocorreu na semana passada - afirma o executivo da SHV, ao classificar tal movimento de ''proteção dos consumidores''.
Segundo Cotta, à medida que a crise for superada, a tendência é que os consumidores brasileiros adotem um procedimento semelhante ao difundido nos mercados da União Européia. Lá, embora o gás natural responda por grande parte do consumo industrial, as empresas adotam o GLP como espécie de back up para minimizar o risco de desabastecimento.
Apesar do otimismo, Cotta reclama apenas da carga tributária que incide sobre o GLP no Brasil. Segundo ele, enquanto os impostos respondem por 10% do valor cobrado pelo gás natural comercializado no Brasil, no caso do GLP essa fatia chega a 22%. Na última semana, também como conseqüência da crise boliviana, o executivo encontrou-se com representantes da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (Seae) para discutir uma possível recomposição tributária.