Título: BC, enfim, interrompe alta dos juros
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 16/06/2005, Economia & Negócios, p. A21

SÃO PAULO - Depois de nove altas consecutivas, o Banco Central confirmou a expectativa quase unânime do mercado financeiro e manteve a Selic em 19,75% ao ano. Em um breve comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou o fim do ciclo de alta na taxa básica, em uma decisão unânime e sem viés. Mas, com a manutenção da taxa em 19,75% e o recuo da inflação, os juros reais sobem mais um pouco, chegando a 13,93% ao ano. Além das queixas freqüentes do setor produtivo, a insatisfação com a escalada dos juros vinha ganhando corpo dentro do governo. Desde a reunião de maio, o BC tornara-se alvo de críticas de integrantes do próprio governo - o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, foi um dos que disseram que já estava na hora de o juro parar de subir.

A decisão de manter os juros satisfez em parte a Fiesp e outros empresários do setor produtivo. No entanto, por meio de uma nota, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que a taxa em 19,75% ''sepulta definitivamente o primeiro semestre e já ameaça os seis meses restantes de 2005''. Skaf também salientou a discrepância entre o patamar dos juros e a desaceleração já evidente na produção e na demanda.

- Agora, é preciso salvar o ano. E isto somente será possível se os juros caírem rapidamente, considerando que o mercado demora a refletir a oscilação das taxas.

Embora o ciclo de alta tenha sido interrompido, a possibilidade de queda nos juros em um curto espaço de tempo é considerada remota. O economista-chefe do ABN Amro Asset Manegement, Hugo Penteado, considera acertada a manutenção da taxa.

- Os dados já vinham mostrando queda da demanda e também aumento da capacidade produtiva - diz ele, que, no entanto, não prevê um recuo tão cedo. - É preciso acompanhar os dados de inflação e demanda, mas hoje trabalhamos com uma previsão de que a Selic comece a cair a partir de outubro.

A expectativa de manutenção da Selic ganhou mais força na semana passada, com a divulgação de diversos índices de inflação. O IPCA de maio - referência para a política de metas - ficou em 0,49%, o menor dos últimos sete meses. O índice atingiu praticamente a metade do 0,87% de abril. Os índices do atacado também mostram desaceleração. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) registrou deflação de 0,3% na primeira prévia de junho.

A forte desaceleração no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), confirmando o desaquecimento da economia, e a melhora nas expectativas de inflação do mercado financeiro também ajudaram, afirmam analistas. Segundo o IBGE, o PIB no primeiro trimestre registrou expansão de apenas 0,3% em relação aos últimos três meses do ano passado. Já as pesquisas de mercado do BC mostram, há quatro semanas consecutivas, melhora nas projeções para a inflação do ano. No levantamento divulgado na última segunda, a expectativa para o IPCA de 2005 ficou em 6,35%. A meta perseguida pelo BC, e considerada inatingível, é um IPCA de 5,1% no ano.

A expectativa agora é pela ata explicando a decisão de ontem, a ser divulgada na próxima quinta-feira.

- Acredito que o documento venha sinalizando com clareza que chegou ao fim o ciclo de alta - prevê Penteado.

Luiz Marinho, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), reprovou a manutenção da Selic, por considerá-la ''longe dos anseios da sociedade''. ''A decisão do Copom, de manter a taxa só não é pior que sua elevação. O Brasil precisa de uma agenda positiva. E a queda da taxa de juros seria uma boa notícia nessa direção'', atacou em nota.

O conselheiro do Sindicato das Financeiras do Rio (Secif), Istvan Kasznar, afirmou temer o risco da crise política na trajetória dos juros. ''O governo enfraquecido se verá obrigado a liberar mais recursos, o que certamente impactará na taxa de inflação. Se chegarmos a este ponto, os juros voltarão a subir'', afirmou.

O economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, considerou correta a decisão do Copom. ''É de se esperar que a ata da reunião sinalize o início de um processo de estabilização da taxa Selic e de sua redução no último trimestre, permitindo a reativação da economia para o fim do ano.''