Título: Indústria abre vagas com baixos salários
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 16/06/2005, Economia & Negócios, p. A21

A indústria contratou mais funcionários, pagou mais horas extras, mas, ainda assim, remunerou menos, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O que parece esquizofrenia tem explicação realista: os setores que têm alimentado o avanço do emprego pagam muito pouco.

Entre março e abril, as contratações cresceram 0,6%, as horas pagas 0,3%, mas a folha de pagamento minguou 2,3%.

- Está havendo reposição de pessoal em setores que pagam menos e, quando isso acontece com freqüência, a média de pagamento do setor cai - esclarece Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Confirmando a análise, produtores de álcool elevaram em quase 30% o número de trabalhadores.

- Sabemos que este pessoal ganha menos que um salário mínimo, quando ganha - afirma uma fonte que estuda o mercado de trabalho.

Os pátios das fábricas de alimentos e bebidas, 9,6% mais cheios, também contribuíram para achatar a renda da indústria, de acordo com analistas.

''Por outro lado, calçados e couro (-8,8%) e vestuário (-3,2%) representaram os principais impactos negativos'', destacou o IBGE.

Segundo o instituto, o emprego industrial voltou a crescer justamente quando a produção ficou estagnada. Por isso, o ritmo de contratações está ameaçado.

- É importante que o setor volte a produzir mais para que não haja deterioração do emprego. Ninguém continua contratando se não eleva produção - afirmou o especialista do Ipea, alertando que a queda na renda atinge outros setores da economia.

A queda de 2,3% na folha de pagamento ocorre depois de quatro meses seguidos de aumento de renda, acumulada em 8%.

São Paulo (4,9%) e Minas Gerais (4,6%) foram os mais beneficiados pelas vagas no parque fabril. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial verificou que houve retração no nível de emprego em cinco dos 17 ramos pesquisados. ''As maiores quedas ocorreram nos setores onde a valorização do real deixou seqüelas'', analisa a entidade em relatório, referindo-se ao desempenho dos segmentos ligados ao couro (queda de 8,8%), madeira (queda de 4,9%) e vestuário (queda de 3,2%). Os ramos que registraram elevação foram, principalmente o de coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool, além do de meios de transporte, onde as contratações aumentaram 29,2% e 11,5%, respectivamente.