Título: Impasse político eleva tensão
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/06/2005, Internacional, p. A8

MANÁGUA - O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, pouco depois de assumir o cargo já enfrenta duas crises institucionais políticas. Depois da Bolívia - o presidente Carlos Mesa renunciou no início do mês - agora é a vez da Nicarágua.

Insulza concluiu ontem uma missão no país sem conseguir um acordo entre o governo e o Congresso e alertou que a situação pode se agravar:

- Acredito que haja motivos genuínos para preocupação. A sociedade segue funcionando, as pessoas seguem suas atividades, mas o que há por trás disso é uma profunda divisão política que pode desembocar em uma crise - afirmou.

O líder da OEA chegou à Nicarágua na quarta-feira a pedido do presidente Enrique Bolaños, que enfrenta o Congresso - dominado por opositores do Partido Liberal Constitucionalista (PLC), de direita, e da Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN), de esquerda.

Bolaños, um empresário que termina seu mandato dentro de 18 meses, afirma que o Congresso rompeu o equilíbrio de poderes ao aprovar reformas parciais à Constituição, entre dezembro e janeiro.

Insulza buscou durante três dias uma aproximação entre as partes, mas reconheceu que ''restabelecer o diálogo é mais difícil do que se tinha imaginado''.

No sábado, o governo de Bolaños propôs um referendo em novembro sobre as reformas, assim como eleições para uma assembléia constituinte no próximo ano. No mesmo dia o ex-presidente e líder sandinista Daniel Ortega propôs a antecipação das eleições presidenciais para novembro deste ano, ''dada a ingovernabilidade'' que persiste na Nicarágua.

- Acredito que isso seria o mais sensato, que o povo escolhesse o presidente pelo voto, dada a ingovernabilidade do país- disse Ortega.

A situação se agravou esta semana, depois que a Contraloria (Procuradoria) pediu, pela segunda vez em menos de um ano, que o Parlamento destituísse o presidente por desacato à Constituição. Na quarta-feira 130 mil pessoas foram às ruas para manifestar em apoio a democracia.

O secretário apresentará um relatório sobre a situação na Nicarágua para o conselho permanente da OEA na terça-feira. E não descartou regressar ''nos próximos dias'' a Manágua.

O conflito entre o Executivo e o Legislativo começou por causa de uma reforma constitucional aprovada pelo Parlamento, que limita os poderes do presidente Bolaños.