Título: Semana decisiva para Lula
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/06/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a Brasília para enfrentar a mais dura batalha de sua gestão. Corre contra o tempo para recompor sua base de sustentação no Congresso e dar uma nova cara ao governo. A reforma ministerial prevista para começo da semana é o primeiro passo.

A primeira mudança a ser anunciada por Lula é o substituto de José Dirceu na Casa Civil. O nome mais cotado é o da ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef. O perfil mais técnico do que político de Dilma para uma área frágil do governo - refazer a base de sustenção no Congresso em um contexto de denúncias de corrupção envolvendo partidos aliados - gerou forte resistência de setores do PT, que neste fim de semana ainda tentavam convencer o presidente a optar pelo ministro Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

No esforço de recomposição da base, Lula também precisa dispensar os ministros com mandato para formar a chamada ''tropa de choque'' no Congresso. Além de Dirceu, os ministros da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, do Trabalho, Ricardo Berzoini, e da Coordenação Política, Aldo Rebelo, deixariam a Esplanada para defender o governo das acusações de corrupção.

Os últimos sinais emitidos pelo Planalto indicam, entretanto, que a reforma não será tão ampla como se esperava. Por enquanto, o que é certo é o aumento da fatia do PMDB no governo. O apoio do partido foi fundamental para o governo ter o controle do comando da CPI dos Correios.

Também está sendo planejado um pronunciamento de Lula à nação, logo depois do anúncio da reforma ministerial, no qual o presidente explicaria as mudanças em curso. Reforçaria a idéia de que seu governo não aceita a corrupção e está disposto a ''cortar na própria carne''.

Durante o fim de semana, governo e oposição se reuniram para analisar as últimas denúncias e escolher as armas que usariam na semana que se apresenta como decisiva para o governo Lula. A entrevista de Roberto Jefferson ao JB acusando Dirceu de ser o mentor do mensalão deu mais munição à oposição.

O PT usou a reunião do Diretório Nacional, para unificar o discurso. Em documento divulgado no fim do encontro, afirmou que as denúncias de corrupção feitas por Jefferson são ''falsas'' e têm a intenção de ''comprometer o governo e a história do partido''. Diz ainda que ''existe um evidente vínculo entre os agentes de falsas denúncias contra o PT com setores da oposição - especialmente do PSDB e do PFL''.

O partido define as denúncias como ''uma campanha patrocinada por setores da oposição e pela direita que se expressa numa tentativa de condenar política e moralmente o PT num processo sem fatos e sem provas'', antecipando o discurso que usará no Congresso para defender o governo.

A oposição nem esperou a segunda-feira para reagir. Contra-atacou ontem dizendo que o PT perdeu ''a noção de realidade'' e beira a ''infantilidade'' ao assumir atitudes belicosas. Ao negar a responsabilidade pela crise, líderes do PFL e do PSDB centraram fogo contra Dirceu, chamado-o ironicamente de El Cid, o herói espanhol que mesmo depois de morto foi amarrado ao seu cavalo como forma de assustar os mouros, no século 12.

- Essa resolução do PT é injusta e infantil. Eles estão sendo atingidos pelo próprio fogo amigo. O Dirceu vive em um mundo de delírio, é saudado como um El Cid - afirmou Arthur Virgílio, líder do PSDB.

José Agripino Maia, líder do PFL no Senado, também reagiu indignado:

- Eles acham que o povo é bobo e a oposição é imbecil. Perderam a noção da realidade.

Para o líder da bancada tucana na Câmara, Alberto Goldman, a resolução é uma ''declaração de guerra'' A manutenção de Delúbio Soares e Sílvio Pereira em seus postos foi classificada por Goldman de mafiosa.

- São regras da Cosa Nostra. Tomaram a decisão de um proteger o outro. Todos sabem que eles são funcionários que não fariam absolutamente nada sem o comando do José Genoino e do Zé Dirceu. O afastamento deles seria uma ótima cortina de fumaça, mas aparentemente eles não quiseram servir como boi de piranha - disse Goldman.