Título: Governo e PT estabelecem agenda para enfrentar crise
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 20/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - A semana em Brasília vai ferver. O ex-chefe do departamento de compras dos Correios, Maurício Marinho, depõe na terça-feira na CPI dos Correios. No mesmo dia, está previsto o depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na Corregedoria da Câmara. Também nesta semana, o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, desce à planície e reassume o mandato como deputado. O governo, fragilizado pela crise e com um exército dividido por brigas internas, precisará se desdobrar para lutar em tantas frentes.

- Temos de ser eficientes em todas elas, nos desdobrar. Especialmente o PT - resumiu o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP).

Para Greenhalgh, será fundamental, no âmbito do PT, a criação de um gabinete de crise, onde as informações circulem com rapidez, para que todos tenham condições de ajudar. No caso do governo, o trabalho é mais amplo, passando pela reforma ministerial para reorganizar a bancada aliada e a definição dos projetos prioritários. Na visão do petista, três movimentos serão decisivos.

- As condutas do PT e do PTB após a reuniões de seus diretórios nacionais e as mexidas na Esplanada previstas para esta semana - enumerou.

Assistindo de longe a crise política e de olho no aumento de vagas na Esplanada, o PMDB acredita que a frente ampla de batalhas é um problema momentâneo, que irá se diluir ao longo do tempo. Líderes do partido acham pouco provável a criação de duas CPIs para investigar a mesma denúncia - o mensalão - chocando-se com a CPI dos Correios, em pleno funcionamento. Quanto aos trabalhos do Conselho de Ética e da Corregedoria, os peemedebistas acreditam que acabarão confluindo na mesma direção.

Ao contrário das análises pessimistas, no entanto, acham que o leque amplo de investigações mais ajudaria do que atrapalharia o Executivo.

- CPI é holofote. Se você der um grande show, em palco único, sua audiência vai ser muito maior do que se você montar um palco principal com outros eventos acontecendo simultaneamente - exemplificou um deputado do PMDB.

O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), acredita que a crise política acabará por unificar os ânimos da bancada governista. Mabel não acha que as disputas internas entre PT, PP, PL e PTB provocarão fissuras ainda maiores do que as já existentes. Para o líder goiano, com muito trabalho nas costas, os aliados acabarão se aglutinando.

- Nossos problemas são exclusivamente com Jefferson. A relação com a bancada do PTB é a melhor possível.

Vice-líder do PSDB na Câmara e escalado pelo seu partido para compor a CPI dos Correios, Eduardo Paes (RJ), não vislumbra possibilidades de o governo conseguir blindar as investigações. Para ele, a votação apertada na eleição do senador Delcídio Amaral (PT-MS) para a presidência da Comissão é um sinal de que as batalhas serão árduas.

Quanto ao Conselho de Ética, o tucano reconhece que dificilmente manterá a mesma dimensão quando os trabalhos das CPIs avançarem.

- Os trabalhos no Conselho de Ética servirão para instrumentalizar e sugerir as convocações de depoimentos nas CPIs - adiantou.

O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), reconhece que a bancada governista tem quadros - numericamente e qualitativamente falando - para defender o Executivo das acusações que vêm sofrendo. Provocou, contudo, a base aliada, lembrando que durante o depoimento de Jefferson no Conselho de Ética da Câmara não havia um governista para contrapor-se ao petebista.

- Vão ter de colocar esse pessoal para trabalhar. O problema é ver quem está disposto a assumir o desgaste perante a opinião pública - declarou.

O corregedor, Ciro Nogueira, que participou na noite de sábado, da festa junina da associação dos funcionários da Câmara, junto com o presidente da Casa, Severino Cavalcanti, afirmou que o depoimento de Dirceu já foi marcado. Deve acontecer quinta ou sexta-feira.