Título: Lixo pode ser 100% aproveitado
Autor: Bruno Arruda
Fonte: Jornal do Brasil, 20/06/2005, Brasília, p. D1

A Comissão de Resíduos Sólidos do DF da Fibra acredita que a capital pode se transformar em unidade modelo para os outros estados, em termos de manejo de resíduos sólidos. Para que isso aconteça, contudo, especialistas indicam a necessidade de uma política de gestão de lixo mais ampla que o mero manejo dos detritos. - Brasília deu exemplo ao País ao fazer funcionar a lei da faixa de pedestre, e tem orgulho disso. Acreditamos que o brasiliense pode dar mais uma amostra de avanço em termos de respeito ao cidadão - incentiva o presidente da Comissão, Dario Clementino.

A cidade-modelo imaginada por Clementino começaria pela educação ambiental. Ele informou que a UnB, uma das 30 instituições que fazem parte da Comissão, prepara trabalho direcionado para os jovens a ser desenvolvido em duas escolas públicas na Ceilândia, cidade escolhida pelo grupo como ponto de partida para o projeto em todo o DF. Essa educação evitaria o fracasso de iniciativas que dependem dos brasilienses.

- Falta esse engajamento da população, uma política nacional de resíduos que envolva a sociedade - defende Zilda Veloso, coordenadora de resíduos do Ibama.

Ela argumenta que as legislações estaduais e as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) são limitadas por não atingirem o consumidor, por não estabelecerem regras claras sobre como a população deve proceder com o lixo. E lembra que existe um projeto de lei de criação da Política Nacional de Resíduos em tramitação no Congresso desde 1992.

Altos e baixos - Zilda crê que a gestão dos resíduos no DF teve bons e maus momentos ao longo dos seus 45 anos. Aponta que, apesar de não abrigar indústria química pesada, a cidade teve crescimento industrial significativo, não plenamente assimilado. Lembrou também a tentativa mal-sucedida de se estabelecer a coleta seletiva.

- O lixo é quase 100% aproveitável, mas em Brasília o percentual de aproveitamento ainda é mínimo. As tentativas de emplacar a coleta seletiva, por exemplo, acabaram quando os dois tipos de lixo eram misturados nos caminhões - reconhece o empresário Dario Clementino.

Como pontos positivos, Zilda cita os trabalhos desenvolvidos pelo Sebrae no DF, de treinamento de pequenas e médias empresas na capacitação para gestão adequada de resíduos. Especialmente de pequenas tinturarias e gráficas, abundantes na capital, que são pequenas mas causam impacto.

Em outra frente, Anna Virgínia Muniz, assessora técnica da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) que participará do seminário na Fibra, destaca que já não há crianças trabalhando nos lixões como antes e que os catadores estão organizados em cooperativas - todas mudanças positivas.

- Brasília está em fase de construir novo aterro sanitário, pois tem nos lixões uma disposição inadequada. Pode fazer grande uso da tecnologia italiana - aponta Anna.

Esgoto - Há outro tipo de resíduo, menos lembrado nas discussões sobre reaproveitamento: aquele que vai para o esgoto. Em termos per capita, o DF é a localidade que gera mais lodo de esgoto no Brasil, por ter a mais abrangente rede de saneamento do país. O engenheiro agrônomo da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Rodrigo Studart, conta que na média nacional apenas 10% dos dejetos de esgoto são coletados. Na capital, o percentual é 90%.

- Resolvemos o problema de tirar o lixo da porta do cidadão e criamos outro: o que fazer com o lixo retirado.

O engenheiro informou que atualmente existe grupo de trabalho do Conselho de Meio Ambiente do DF debruçado sobre as normas para que o produto resultante do tratamento do esgoto possa ser usado na agricultura, no reflorestamento e recuperação de áreas degradadas pela mineração.

- Essas normas estarão prontas até o fim de julho e vão permitir que usemos o produto sem problemas - informou Studart.