Título: Lixo do DF atrai investimento italiano
Autor: Bruno Arruda
Fonte: Jornal do Brasil, 20/06/2005, Brasília, p. D1

A população desconhece o valor do lixo. Mas o potencial econômico dos rejeitos produzidos diariamente no DF e no Brasil é grande o bastante para reunir em Brasília, nesta quarta-feira, industriais brasileiros e europeus, representantes do governo federal e de administrações estaduais e organizações ambientais. Delegados de oito grandes empresas italianas, de olho na abundância da matéria-prima no Brasil, apresentarão as tecnologias de que dispõem para coleta e tratamento do lixo no seminário Resíduos Sólidos Urbanos: planejamento, tratamento e cidades sustentáveis - As possibilidades de colaboração entre Brasil e Itália, que acontece a partir das 8h30 do dia 22, na Federação das Indústrias de Brasília (Fibra).

- A idéia é permitir que os industriais e o governo verifiquem a tecnologia italiana, para que negócios sejam fechados no futuro. É estimular o começo de um namoro - definiu o presidente da Comissão de Resíduos Sólidos da Fibra, Dario Clementino.

São diariamente produzidas no DF 3 mil toneladas de lixo orgânico, mais 4 mil toneladas de entulho sólido proveniente da construção civil. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do DF (Semarh), mil toneladas são produzidas só de lixo doméstico, e cerca de 200 toneladas de lodo de esgoto. Clementino contabiliza a riqueza do lixo distrital.

- É difícil precisar, mas acredito que, no mínimo, com um serviço bem estruturado, o lixo poderia financiar todo o custo do próprio lixo. Ou seja, pelo menos, os R$ 180 milhões anuais que o governo está pagando à empresa Qualix para a coleta no DF - estima o industrial.

O Instituto Italiano para Comércio Exterior antecipou algumas das principais novidades a serem apresentadas no evento. Uma delas é a termo-valorização do lixo - por meio da qual se pode gerar, com uma tonelada de resíduos, algo entre 500 kW e 600 kW.

- A termo-valorização é diferente da simples incineração por aproveitar o calor produzido na geração de energia. Com isso é possível diversificar a matriz energética - explicou Diego Tomassini, coordenador de Projetos Ambientas do ICE.

O processo é, de acordo com o Instituto, responsável em termos ambientais. Os produtos da queima não são tóxicos, nem prejudiciais ao meio ambiente.

Outra tecnologia desenvolvida pelos europeus permite utilizar o gás metano derivado do apodrecimento dos resíduos orgânicos. Conforme Tomassini, além de aproveitar o gás como combustível, esse procedimento diminui a presença do metano - um dos causadores do efeito estufa - na atmosfera.

Pioneirismo - A Itália desenvolveu sua tecnologia de tratamento de lixo depois de se deparar, na década de 70, com um problema comparável ao que os brasileiros vivem hoje - a proliferação de lixões insalubres e saturados e aterros irregulares. Agora, o país utiliza o avanço técnico para conseguir dividendos. A energia produzida na Itália com lixo gera a cada ano, em média, US$ 20 milhões por por planta, segundo estimativa da ICE.

Além disso, há o mercado de créditos de carbono, criado com o protocolo de Kioto. Em breve, os países industrializados incapazes de reduzir a emissão de carbono na atmosfera aos níveis estabelecidos pelo protocolo poderão compensar o excesso financiando projetos de redução dessas emissões em países em desenvolvimento.

- A Itália deve investir US$ 350 milhões por ano em diversos países em desenvolvimento. Algo em torno de US$ 50 milhões devem ser destinados ao Brasil, a depender dos marcos regulatórios e condições para investimentos oferecidas - revelou Tomassini.

O encontro é parceria entre a Fibra, o Instituto Italiano para o Comércio Exterior (ICE) e a Embaixada da Itália, e contará com as presenças do ministro Eduardo Campos, da Ciência e Tecnologia, e do governador Joaquim Roriz, entre outros representantes dos governos federal e distrital e de prefeituras de todo o país.