Título: Rede fortalece amizade entre jovens
Autor: Marcela Canavarro
Fonte: Jornal do Brasil, 20/06/2005, Interent, p. A22

Recente pesquisa realizada pela MTV Brasil com o público jovem confronta o velho mito de que a internet é nociva aos relacionamentos pessoais. De acordo com o estudo, para 51% dos jovens de 15 a 30 anos, o relacionamento com os amigos mudou para melhor por causa da Rede e, para 39%, a internet proporcionou um contato maior com seu círculo de amizades.

- O jovem é muito individualista, mas a internet é uma maneira de quebrar isso através da criação de comunidades e da intensa interação - enfatiza o diretor de Marketing da MTV Brasil, José Wilson Fonseca.

A pesquisa foi feita com 2.359 jovens das classes A, B e C, em São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre. A comparação dos resultados deste ano com os obtidos em 1999, quando o estudo foi realizado pela primeira vez, mostra como os últimos seis anos foram impactantes em termos de tecnologia. O percentual de usuários de celular saltou de 19% para 71%, sendo que 72% desse total já trocou de aparelho pelo menos uma vez. Entre a classe A, 94% têm celular, contra 45% em 1999.

Os números são parecidos quando o assunto é computador. Há seis anos, 21% tinham um micro em casa contra os atuais 94%. Entre a classe A, o acesso à internet é de 96%. E engana-se quem acha que a internet ainda é exclusiva para classes A e B. A pesquisa mostra que, de alguma forma, a inclusão digital está acontecendo, pelo menos entre os jovens. Mais da metade dos jovens da classe C mantêm acesso regular à internet, com um índice de 53%.

- Eles não acessam a Rede por modismo. Os jovens sabem que precisam disso e entendem a real necessidade da tecnologia - acredita Zé Wilson.

Blogs, fotologs, Orkut e mensageiros instantâneos também têm muitos adeptos. Mais populares entre os 15 e 17 anos, os mensageiros instantâneos são usados por 54% desse universo para marcar encontros, fazer trabalhos de grupo, mandar e receber arquivos. A estudante Joana Ferreira, 17 anos, reveza com a irmã o posto no micro.

- Sempre tem alguém online aqui em casa - conta.

Além do MSN, que usa diariamente - com carga horária extra nos fins de semana -, Joana tem à disposição um celular com créditos ilimitados para quatro números de telefone, o Orkut, que a conecta com 150 amigos, e o e-mail, que utiliza para troca de arquivos mais pesados ou quando um amigo não está online.

- Sempre encontro alguém com quem posso tirar dúvidas da escola e marcar o que fazer mais tarde.

A pesquisa destaca que, com tantas ferramentas disponíveis, a comunicação entre os jovens se delineou com novas formas. ''Definitivamente ganhou novas linguagens, canais alternativos específicos, e hoje é possível selecionar e usar o canal perfeito de acordo com o que se quer dizer, como, para quem e em que tempo se quer dizer. Se antes o receio de algum tipo de ruído podia gerar insegurança e levar alguém a desistir de se comunicar, hoje essa possibilidade praticamente inexiste'', destaca a pesquisa. Certos depoimentos comprovam a tese:

''Às vezes você quer falar com a pessoa, mas não falar, entende? Não quer que a pessoa responda nada, nem você sabe o que vai falar depois se ela responder... Então por isso que é muito bom , você ter o torpedo, ou o MSN, porque você pode matar aquela vontade de falar sem ter que conversar, sem ter que ficar na frente da pessoa... Então coisas que você nem pensava em dizer, você diz, porque agora tem como...'', afirmou um jovem do Rio de Janeiro.

E ele não está sozinho, não é à toa que 51% dos entrevistados afirmaram ficar mais à vontade para dizer determinadas coisas pela internet e 48% admitiram que às vezes mentem em conversas virtuais.

Apesar de estarem contra a tendência, ainda há quem evite ultrapassar a barreira do mínimo uso necessário das tecnologias. O estudante Marcos Hackbarth Filho, 17 anos, já recusou um celular que o pai deu de presente. Além disso, não conversa com os amigos pela Rede e acha os mensageiros instantâneos inúteis. Quando pretende adentrar este mundo?

- Acho que só quando eu começar a trabalhar vou precisar disso - estima, contando ainda com uns bons anos longe do vício digital.