Título: Os principais pontos da entrevista
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 18/06/2005, Brasília, p. D3

Desafios O maior desafio da UnB é permanecer funcionando diariamente, o que nós temos cumprido com êxito. O desafio da minha gestão será suprir a carência de pessoal. A universidade tem hoje um déficit de 300 professores e mil funcionários o que nos faz funcionar com dificuldades. Teremos que convencer as autoridades a contratar mais, fazer novos concursos. Além disso, várias obras foram iniciadas por todo o campus, como os prédios onde funcionarão as faculdades de Química, Biologia, Economia e Administração, Odontologia e Farmácia e o laboratório de Geologia e temos o desafio de concluí-las até o final do meu mandato. Temos também que elaborar um projeto de reestruturação do Instituto Central de Ciências (ICC), já que um terço das faculdades que hoje estão no prédio sairão de lá com as novas sedes. Queremos que a reformulação do ICC tenha um tratamento arquitetônico moderno que vai transformar as masmorras do ICC em um prédio acadêmico. Queremos também fortalecer a pós-graduação e pesquisa, principalmente fazendo novas parcerias internacionais com países da África e Ásia. Estudantes A participação pequena dos estudantes na eleição foi o resultado de uma campanha pelo boicote promovida pelo Diretório Central dos Estudantes. Além disso, senti pouco interesse dos alunos, nem mesmo dos debates eles participaram. Não será difícil para mim se aproximar dos estudantes, tenho um bom relacionamento com eles, a gente nem sempre concorda mas conversamos. Meu gabinete é conhecido como uma sala aberta aos estudantes, professores e funcionários.

Paridade Uma lei federal (Lei 9.192/95) determina que o voto dos professores tenha valor de 70%, dos estudantes 15% e dos funcionários 15%. Nós queremos que essa lei seja revogada e que cada universidade tenha autonomia para decidir o seu processo eleitoral. Um dos pontos do meu programa de governo prevê que, dois anos antes da próxima eleição, seja feito um grande debate na universidade, com discussões para decidir a melhor forma de eleição. Precisamos discutir com professores, alunos, servidores e também com a sociedade, que é quem paga nossas contas. Pode ser que, a partir dessa discussão, decidam pela paridade. Queremos uma conversa e não uma queda-de-braço.

Cespe Antes de mais nada, tudo o que aconteceu no Cespe (concursos promovidos pela instituição estão sendo investigados por suspeita de fraude) tem de ser esclarecido, o que será feito para a polícia. Isso é extremamente importante não só para a universidade como para a sociedade como um todo. Não contribui para o esclarecimento do caso a polícia ficar divulgando depoimentos está na hora do caso passar para a justiça. O Cespe precisa ser recuperado para funcionar completamente. O dinheiro do Cespe corresponde a até 50% de todo o dinheiro da UnB e com todo esse noticiário negativo podemos perder clientes e ter problemas financeiros no final do ano. Espero que até eu assumir tudo esteja resolvido. Mudanças na direção do Cespe, assim como em todos os órgãos da UnB eu só vou cogitar quando for reitor.

Reforma universitária Nos preocupamos em assegurar bases sólidas para o financiamento da universidade. Hoje, o dinheiro repassado pelo governo é muito instável, não tem periodicidade certa, o que deixa qualquer reitor maluco. Está previsto na Constituição que 18% do orçamento seja destinado à educação e que 75% desse dinheiro vá para as universidades federais, o que não é cumprido. Queremos também que a universidade tenha autonomia para ser gerida como universidade e não como repartição pública. Temos um ritmo diferente, são 2.500 projetos e novos projetos aparecem a toda hora e a burocracia se apega a questões como o orçamento do ano e outras que emperram os projetos e poderiam ser resolvidas de outra forma. Queremos também que a reforma zele pela qualidade do ensino superior brasileiro. Foram abertas várias faculdades com pouca qualidade que, ao invés de educar, engana os alunos

Prouni Nenhuma universidade federal aplaude o Prouni (Programa Universidade para Todos do governo federal que dá bolsas em faculdades particulares a alunos carentes). Foram abertas muitas faculdades e não existem alunos para tantas vagas. O que o Prouni faz é preencher as vagas ociosas das faculdades particulares. O que nós queremos é a ampliação da universidade pública o que poderia ser feito com o dinheiro que o governo está usando para cobrir o déficit da rede privada. Investir na universidade pública é o primeiro passo para o desenvolvimento.

Cotas Apoiei e ajudei na implementação do sistema de cotas. Estamos agora concluindo o primeiro ano dos alunos cotistas e estamos avaliando a experiência para aprimorar o sistema. Além do sistema de cotas, nós damos bolsas para garantir a permanência do aluno carente na universidade. O rendimento do cotista é o mesmo de qualquer aluno, não há diferença, eles não são melhores nem piores, uns e outros.

Política Não sou filiado a nenhum partido político e nem tenho pretensões políticas. Quero uma gestão suprapartidária e ter o apoio de todos os partidos. Sou apaixonado pela UnB, estou nela há 28 anos e pretendo ficar outros 28 se minha saúde permitir.