Título: Dirceu entra em campo para defender PT
Autor: Marcos Seabra
Fonte: Jornal do Brasil, 18/06/2005, País, p. A2

O PT vive dias de grande agitação, envolvendo mais seus problemas internos do que propriamente a crise em torno do governo Luiz Inácio Lula da Silva e da preconizada reforma ministerial. Ontem, as várias tendências do partido realizaram reuniões em São Paulo, isoladas, mas com único sentido: preparação para reunião extraordinária do diretório nacional do PT, hoje, na sede do partido, quando será discutida a estratégia a ser adotada para enfrentar a crise de credibilidade que o partido vem sofrendo. No dia seguinte ao anúncio de que deixaria a Casa Civil, José Dirceu se apresentou ao partido. Preparando-se para o duelo que sabe que enfrentará no Congresso, discursou por vinte minutos na abertura do encontro da tendência Campo Majoritário. À noite, participou de um ato em defesa do partido.

Em clima de comício, Dirceu voltou a discursar. Desta vez, para cerca de 1.500 militantes. Afirmou que o país precisa de uma análise fria e serena do momento pelo qual está passando e lembrou que o PT sempre esteve na bancada dos que defendem investigações a cerca de quaisquer denúncias. Exaltado, o ministro se dirigia aos partidários presentes, que respondiam aos gritos

¿ Este governo não rouba nem deixa roubar. Aqueles que tentam agora nos atingir estavam no banco dos réus, defendendo os que assaltaram nosso país, e não do lado dos que combatiam a corrupção. Foi exatamente quando o Ministério Público e a Polícia Federal entrarão fundo nas investigações sobre os Correios e o IRB que eles decidiram nos atacar. E ainda querem me colocar contar o Palocci, que, além de meu amigo e companheiro, está cumprindo o que resolvemos no governo.

A solenidade visava a repudiar as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson, sobre o suposto esquema do mensalão na Câmara. Também estiveram no encontro os ministro Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência da República; Waldir Pires, da Controladoria Geral da União; Antonio Palocci, da Fazenda; e Matilde Ribeiro, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, além da ex-prefeita de SP, Marta Suplicy.

Pela manhã, o presidente do partido, José Genoino, fez questão de reforçar o discurso de unidade dentro do partido na defesa de Dirceu.

¿ Ele detalhou e reafirmou os três compromissos básicos: de defesa do governo, do PT e com o debate, em todos os estados, por ocasião da eleição para direção do partido.

Preocupado com a unidade do partido, Genoino afirmou que não está sendo discutida nenhuma medida de afastamento do tesoureiro, Delúbio Soares, nem do secretário, Silvio Pereira, ambos envolvidos pelo deputado Roberto Jefferson em denúncias de pagamento de propinas a parlamentares do PP e PL.

O ex-ministro reassume o mandato como deputado quarta-feira. Durante o discurso em que Dirceu comunicou sua saída do ministério, parlamentares do PT na Câmara se sentiram ameaçados com a prometida chegada do ¿novo¿ colega.

¿ Isso está um verdadeiro salve-se quem puder ¿ disse um parlamentar do PT que, a exemplo de vários de seus colegas, sempre defendeu a saída de Dirceu, mas não gostou da idéia da volta do ex-ministro à Câmara. Sem querer se identificar, o parlamentar que representa um dos estados do Sul, explicou que o equilíbrio entre as tendências petistas no Congresso será ¿seriamente afetado¿.

O bom humor e a disposição de Dirceu durante a reunião do Campo Majoritário também foi salientada pelo assessor para Relações Internacionais do presidente, Marco Aurélio Garcia.

¿ Ele se mostrou animado para a defesa do partido e do governo ¿ garantiu Garcia

A guerra entre as tendências internas do PT ultrapassou as discussões ideológicas tradicionais e passou ao campo prático e de governabilidade do país. Ontem, ao mesmo tempo que o ministro da Educação, Tarso Genro, defendia maior participação do PMDB no governo, duas das tendências consideradas de esquerda do partido se posicionavam contra a idéia.

Valter Pomar, representante da tendência ¿Democracia Socialista¿, defendeu a troca completa da base do governo

¿ O presidente deve procurar apoio na sociedade, mas não em partidos conservadores e fisiológicos ¿ apontou Pomar.

Discurso semelhante apresentaram cinco dos sete candidatos à presidência do PT. Incluindo Plínio de Arruda Sampaio, da tendência ¿Ação Popular Socialista¿.