Título: Governo manobra para tirar mensalão da CPI
Autor: Daniel Pereira e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 18/06/2005, País, p. A2

Com aliados na presidência e na relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, o governo promete manobrar o máximo para impedir que faça parte da investigação a denúncia de pagamento de mesada ao PL e ao PP, em troca de apoio no Congresso. A idéia é convocar para prestar depoimentos, em um primeiro momento, ex-diretores da estatal, pessoas que gravaram as cenas de corrupção, os empresários que as contrataram e o o ex-chefe de departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho, flagrado recebendo R$ 3 mil supostamente de propina.

Parlamentares governistas esperam que, enquanto tais depoimentos sejam colhidos, o Conselho de Ética ou a Corregedoria da Câmara conclua a apuração sobre o mensalão, punindo eventuais responsáveis. O desfecho do caso entre deputados afastaria a necessidade de a CPI dos Correios estender as investigações às denúncias de pagamento de mesada feitas pelo deputado Roberto Jefferson.

Para que a estratégia dê resultado, é necessário adiar o depoimento de Jefferson para depois do encerramento do caso na Câmara.

- Uma coisa é a CPI dos Correios. Outra é o mensalão. Até o momento, não há indício que relacione uma coisa à outra - disse o presidente da CPI dos Correios e líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS).

Os senadores, para Delcídio, não podem intrometer-se em assunto que diz respeito apenas à Câmara. Segundo o governista, o artigo 58 do Regimento Interno da Casa deixa isso explícito. Em almoço na liderança do PMDB, deputados governistas protestaram contra a possibilidade de o Senado julgá-los.

Resta combinar com a oposição. Mais de cem requerimentos já foram apresentados à CPI dos Correios. Um deles, de autoria do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), pede a quebra do sigilo bancário do PT e do PTB.

- A aprovação será um teste para a opinião pública saber se o governo Lula quer ou não investigar denúncias de corrupção - declarou Dias.

Outro requerimento do tucano requer a convocação de Waldomiro Diniz, pivô do primeiro escândalo de corrupção do Lula. Delcídio, que comandou na quinta-feira a primeira reunião com os técnicos que auxiliarão no trabalho da CPI, incluindo profissionais do Banco Central, da Receita Federal e da Polícia Federal, declarou ainda não ter visto este requerimento.

- Por tudo que foi dito e ouvido sobre o caso, um requerimento como esse não é pertinente - rebateu o petista.

Delcídio também discordou do pedido, protocolado por PFL e PSDB no Senado, de formar uma comissão externa para acompanhar as operações da Polícia Federal. Tucanos e pefelistas acham que não há isenção nos trabalhos da CPI.

- Estrutura paralela, neste momento, não constrói nada - criticou Delcidio.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou que a oposição chegou a pensar em instituir um relator paralelo, mas achou que a idéia seria ofensiva demais. Segundo o tucano, autor da proposta e voto vencido nas discussões internas, essa atitude seria uma afronta desnecessária.

- Teremos, com certeza, um coordenador paralelo, provavelmente o senador César Borges - declarou Virgílio.