Título: Mais encenação na reunião do partido
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/06/2005, País, p. A3

Sentado ao lado da filha, com a bandeira do partido em punho, o deputado Roberto Jefferson (RJ) voltou a demonstrar seu talento teatral na reunião do PTB. Chorou três vezes, foi chamado de ''herói'' na tribuna, e arrancou lágrimas da cúpula ao transferir o comando do partido a Flávio Martinez, irmão de José Carlos Martinez, que presidiu o partido até 2003, quando morreu num acidente aéreo. Diante de uma platéia de petebistas dispostos a ovacioná-lo, Jefferson comandou o evento em clima de programa de auditório. Por mais de quatro horas, congressistas e lideranças regionais se alternaram para discursar em defesa do deputado.

O clímax ocorreu quando Jefferson levou a bandeira que empunhava para um Martinez que parecia se desfazer em lágrimas.

- Tudo foi combinado, menos isso - garantiu o deputado Nelson Marquezelli (SP).

Jefferson recebeu a benção de políticos evangélicos e teve seu nome ligado a Getúlio Vargas (1883-1954), João Goulart (1918-1976) e a Leonel Brizola (1922-2004).

As manifestações em favor do petebista também tiveram camisetas com a mensagem ''Eu acredito em Roberto Jefferson'', confeccionadas pela Juventude do PTB.

No hotel de Brasília, onde ocorreu o evento, foi colocada ainda uma faixa - retirada em seguida - com os dizeres ''PC Faria e Delúbio faz'', em alusão ao tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Melo, Paulo César Farias, e ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Entre os pronunciamentos, Jefferson saudava coloquialmente antigos amigos. Da filha Cristiane Brasil, vereadora no Rio, ouviu que ele era ''alguém que tem coragem de atravessar o deserto à frente da tropa''.

O primeiro a discursar foi o líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE), que sugeriu, sobretudo, a retirada da pauta do item que abordava a reeleição de Roberto Jefferson.

- Não gosto quando diz que enfrentará essa briga sozinho. O senhor cometeu um equívoco ao dizer que estava sozinho. Não está e não vai ficar - disse o presidente do PTB-SP, deputado Campos Machado.

No entusiasmado discurso de Jefferson, outro foco de ataques foram as Organizações Globo. Jefferson chegou a questionar a honestidade da família proprietária.

- O Sistema Globo deve US$ 2 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$ 6 bilhões que vêm sendo rolados mês a mês pelo governo para ter a rédea da liberdade de imprensa dessa honrada instituição - disse, acrescentando: - Fico perguntando assim: CPI do Maurício Marinho, R$ 3 mil (propina que ele teria recebido), ladrão que roubou ladrão... E esses Marinho, que devem R$ 100 bilhões (sic) ao Brasil, qual o Marinho mais desonesto, qual é o pior Marinho? Onde estão os homúnculos, nos Correios ou lá - questionou.

As Organizações Globo divulgaram ontem a seguinte nota sobre as declarações de Jefferson:

''Em seus novos ataques às Organizações Globo, o deputado Roberto Jefferson mente ao afirmar que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, ou qualquer outro órgão oficial, tenha participado como avalista ou financiador da renegociação da nossa dívida, que como se sabe já foi concluída de forma satisfatória. As empresas das Organizações Globo são saudáveis e dão lucro, como pode ser verificado nos seus demonstrativos financeiros, que são públicos''.