Título: Jefferson pede afastamento do PTB
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 18/06/2005, País, p. A3

Deputado se prepara para um duelo com Dirceu, a quem acusa de ser chefe do maior esquema de corrupção 'em anos'. BRASÍLIA - No dia em que surpreendeu toda a cúpula do PTB e se licenciou entre lágrimas da presidência do partido, Roberto Jefferson (RJ) acusou o ministro demissionário da Casa Civil José Dirceu de comandar ''o maior esquema de corrupção'' dos últimos anos. Ele se referia ao pagamento a deputados em troca de apoio que seria feito pelo PT. Antevendo um ''duelo'' com Dirceu na CPI dos Correios, Jefferson atacou também a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal, que estaria agindo como ''polícia política da ditadura''. Um dia depois de Dirceu anunciar que retoma na semana que vem seu mandato de deputado federal, Jefferson negou ter comemorado sua queda, mas foi incisivo. - Dirceu é o chefe do maior esquema de corrupção que eu vi nos últimos anos - atacou. Em uma tumultuada entrevista que deu na entrada do hotel onde o PTB realizou ontem reunião do Diretório Nacional, Jefferson disse acreditar em um enfrentamento com Dirceu: - Terá (um duelo). Democrática e respeitosamente, como dois homens parlamentares, mas nós nos enfrentaremos - anunciou. Mais tarde, quando fazia o discurso de encerramento do encontro, voltou a citar o ministro: - Lá (na CPI dos Correios), vou ver o Zé Dirceu sentado do meu lado. Ele, Delúbio, Silvinho Pereira, sentadinhos do meu lado, ''desencravando unhas'', como eles gostam de falar. Jefferson acusa deputados do PL e do PP de receberem mesada do PT em troca de apoio político. Ao dizer que o PTB se recusou a participar do suposto esquema, disse que Delúbio fez a oferta dizendo que queria ''desencravar algumas unhas'' de petebistas. Investigado pela PF, pelo Ministério Público e pelo Congresso, Jefferson sofria ameaça de destituição da presidência do PTB, mas conseguiu reaver o apoio do partido após depor, na terça-feira, ao Conselho de Ética da Câmara. Na reunião de ontem, cerca de 300 integrantes do diretório se reuniram com o roteiro acertado. Manter, por aclamação, Jefferson na presidência. Mas o petebista rompeu o roteiro e, após chorar por três vezes, pediu licença até dezembro - disse que volta - e passou o cargo a um surpreso Flávio Martinez, irmão de José Carlos Martinez, que presidia o PTB à época em que morreu num acidente aéreo ocorrido em 2003. - Não posso repartir os meus erros, a minha culpa ou o meu calvário com a bandeira que amo. O PTB é inocente - afirmou Jefferson, que entregou a Martinez a bandeira do partido. - É mais um ato inesperado. Roberto é isso, é emoção - afirmou Martinez, diretor-presidente da rede de TV CNT, do Paraná. A decisão de se afastar teria sido tomada na madrugada de ontem, após receber diversos deputados e o ministro do partido, Walfrido Mares Guia (Turismo), em seu apartamento. O roteiro restante foi cumprido: entregar os cargos que o PTB possui no governo - diretorias na BR Distribuidora e na Eletronuclear e a vice-presidência da Caixa Econômica Federal -, com exceção do de Walfrido e dizer que as bancadas na Câmara e no Senado continuarão apoiando o presidente Lula. Antes de abandonar a direção do PTB, Jefferson voltou a fazer duros ataques ao PT, ressalvando Lula e o ministro Antonio Palocci -''inquestionavelmente um gigante''. Segundo o petebista, o PT ''não tem projeto político, tem projeto de poder''. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também foi novamente acusada de persegui-lo, junto à Casa Civil. Outras fortes críticas foram direcionadas à Polícia Federal, que estaria sendo comandada nos ''moldes da polícia política da ditadura militar'', ao juiz - um ''juiz de governo'' - e ao procurador da República - ''promotor de partido'' - que acompanham as investigações contra ele. - Vivemos aqui uma polícia de exceção, um juízo de exceção, um ministério público de exceção.