Título: Sindicato vê precipitação
Autor: Cristiane Crelier
Fonte: Jornal do Brasil, 18/06/2005, Economia & Negócios, p. A17

O recurso da Varig à nova Lei de Falências levantou as mais diversas preocupações. Para Graziela Baggio, do Sindicato dos Aeronautas, a medida foi precipitada.

- Estavam em curso diversas negociações com novos investidores. O acordo com a TAP, por exemplo, só venceria no dia 23. Não deveriam ter se precipitado dessa forma apenas para evitar que tirassem os aviões - criticou.

Os executivos da Varig, porém, se fiam na atratividade que a lei representa para os investidores.

- A garantia de que a empresa vai continuar operando e os privilégios que a lei oferece a quem investe na recuperação trazem tranqüilidade aos investidores - acredita David Zylbersztajn.

Ele se refere, por exemplo, ao fato de que, pela nova lei, se a empresa vier a falir, quem adquiri-la não fica sucessor das dívidas trabalhistas nem tributárias. Mas, principalmente, porque, no caso de falência decretada, há prioridade de pagamento àqueles que investiram na recuperação.

- A TAP, assim como qualquer outro investidor, pode continuar negociando com a Varig; e fazer isso de maneira mais simplificada, já que ganhamos mais tempo - concluiu Zylbersztajn.

No mercado, a estratégia da Varig foi encarada como a última salvação para a empresa. Segundo o analista Pedro Galdi, do ABN Amro, com a adesão à Lei de Falências, a empresa tenta ganhar tempo para evitar perda ainda maior de participação de mercado.

- Mas ainda falta definir como será o modelo de controle e como será feito o plano de saneamento das contas - alertou.

Segundo Galdi, a empresa aérea ganha tempo também para tentar acertar o negócio com a TAP.

Marcelo Ribeiro, analista da Corretora Pentágono, vai além. Segundo ele, não havia outra opção à Varig senão a adesão à Lei de Falências.

- Agora a Varig retomou às mãos do governo a responsabilidade sobre o futuro da empresa - disse, referindo-se ao encontro de contas entre governo e companhia aérea.

A Varig tem a receber do governo entre R$ 2 bilhões e R$ 7 bilhões, o que ajudaria a cobrir seu patrimônio negativo, hoje em torno de R$ 6,5 bilhões.

Para o analista, no entanto, há uma atmosfera de boa-vontade com a empresa. Além da Lei de Falências, outra iniciativa que pode ajudar é a MP do Bem, assinada na quarta-feira. Nela, empresas podem compensar dívidas do INSS com créditos tributários.

- Tudo passa pelo encontro de contas e não me parece que o governo queira que a companhia pare de voar. Credores privados só esperam por esse sinal para levar adiante as negociações.