Título: PT renova voto de confiança a Delúbio
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/06/2005, País, p. A5

Genoino e Dirceu insistem na manutenção de tesoureiro e secretário-geral em seus cargos, apesar da resistência da esquerda do partido. SÃO PAULO - Desafiando a opinião de várias correntes internas e mesmo de integrantes da cúpula partidária, os dois dirigentes petistas mais implicados no escândalo do mensalão recusaram-se ontem, em tom de ameaça velada, a deixar seus cargos. Delúbio Soares e Sílvio Pereira foram bancados nos cargos numa operação liderada pelo presidente do PT, José Genoino, e pelo ministro demissionário da Casa Civil, José Dirceu, que se retirou no início da tarde. Em discursos na reunião do diretório nacional, em São Paulo, o tesoureiro e o secretário-geral avisaram à platéia de cerca de 70 dirigentes que não aceitariam pagar o ônus da crise sozinhos. Procuraram dividir responsabilidades e disseram que tudo foi feito coletivamente. Os dois negaram ter participado do esquema do mensalão. A ala governista venceu como um trator após um dia tenso e repleto de discussões fechadas. Resoluções apresentadas por quatro tendências internas pedindo o afastamento dos dois acabaram nem sendo votadas. O Campo Majoritário, que domina o PT, impediu que o assunto entrasse formalmente em pauta. Sílvio e Delúbio procuraram comprometer todo o partido na crise.

- O que fiz foi decisão partidária. Se eu sair, vai ter de sair todo mundo - disse Sílvio, segundo relato de participantes.

O secretário-geral foi o responsável pela partilha de cargos federais entre aliados até o fim de 2003, o que estaria na raiz da atual crise política, em razão da disputa por espaço em órgãos públicos. Junto com Delúbio, foi acusado pelo deputado Roberto Jefferson de coordenar um suposto esquema de distribuição de um mensalão a deputados do PP e do PL para que votassem com o governo. Delúbio também excluiu a possibilidade de se licenciar da Executiva petista.

- Sou professor e posso voltar a dar aula. Se o diretório votar para eu me licenciar, prefiro sair definitivamente da Executiva - declarou.

Os dois dirigentes disseram não temer uma investigação pela CPI dos Correios e que deporão se convocados, o que é certo. O argumento de ambos para permanecer é que têm melhores condições de se defender estando no cargo.

- Sair seria assumir a culpa que não tenho e reforçar o denunciante - afirmou o secretário-geral.

A defesa do governo e do PT na CPI e o futuro dos dois dirigentes dominou a reunião. Desgastado, Genoino expressou a companheiros que está próximo de seu limite, em frase que foi interpretada por alguns como uma ameaça de deixar o cargo. Ele próprio, no entanto, desmentiu a hipótese. As quatro principais tendências de oposição - as radicais Articulação de Esquerda, Democracia Socialista e Ação Popular Socialista e a moderada Movimento PT - chegaram a negociar uma resolução conjunta pelo afastamento. No fim, apresentaram documentos próprios pedindo não apenas a saída dos dirigentes de seus cargos mas também o afastamento do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e do ministro da Previdência, Romero Jucá, ambos sendo processados pelo Supremo. Dissidentes do Campo Majoritário, como o senador Eduardo Suplicy, manifestaram apoio aos 'radicais'. Mas a tendência, que controla 65% do partido e reúne a maioria dos ministros e lideranças no Congresso, acabou fazendo valer sua força e aprovou uma resolução branda, que assegura a presença dos dois dirigentes. A reunião durou nove horas. Foi aberta por uma fala de 35 minutos de Dirceu, que defendeu que as alianças sejam ampliadas em favor do PMDB, e não reduzidas, como defendem setores do partido .

- Não faço autocrítica com relação a alianças. São necessárias e devem ser ampliadas, para dar mais espaço ao PMDB - afirmou Dirceu. Enquanto o debate corria tenso, cúpula partidária apresentava à imprensa uma proposta para reduzir o fisiologismo na máquina pública. A idéia é uma proposta de emenda constitucional que acabe com os cargos de confiança na esfera federal e os substitua por concursados. - Isso é uma necessidade diante de um problema colocado para o PT nesse momento - afirmou Genoino. A partilha de cargos entre PT, PMDB e PTB por espaço nos Correios está na origem da atual crise.