Título: Julgamento traz racismo à tona
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/06/2005, Internacional, p. A10
FILADÉLFIA, MISSISSIPI - Um depoimento prestado no tribunal onde o americano Edgar Ray Killen está sendo julgado por três homicídios na década de 60 está provocando polêmica no país que se apresenta como modelo de democracia. O ex-prefeito de Filadélfia Harlan Majure declarou em juízo que a Ku Klux Klan, conhecido grupo que prega a supremacia branca, é ''uma organização pacífica''. Majure é testemunha de defesa de Killen, acusado de pertencer à Ku Klux Klan e de ter liderado, em 1964, o grupo que espancou e matou a tiros à queima-roupa três jovens - James Chaney, Andrew Goodman e Michael Schwerner -, que trabalhavam como voluntários para registrar eleitores negros.
- A (Ku Klux) Klan fez um monte de coisas boas aqui pela região. Até onde eu sei, é uma organização pacífica - disse a testemunha, que ainda negou ter qualquer informação sobre crimes associados à facção.
O ex-prefeito falou do grupo ao garantir que Killen é um ''homem bom'' e que o fato de ele pertencer à facção não iria mudar sua opinião quanto à sua pessoa.
O comentário de Majure não passou despercebido pelo público que assistia ao julgamento. Foi seguido por comentários abafados e provocou reação de grupos de defesa dos direitos humanos. Nia Hightower, da ONG Southern Poverty Law Center, do estado do Alabama, é especialista em rastrear as atividades da Ku Klux Klan pelo país.
- Organização pacífica? Não sei de onde ele pode ter tirado isso. Também não faço idéia do que eles possam ter feito de bom para o Mississipi. Grupos como a Ku Klux Klan são nossos terroristas domésticos, agem dentro do nosso país.
Também depôs ontem David Winstead, que é irmão de Mike Winstead, cujo depoimento na última semana piorou a situação do réu. David foi a juízo ontem para desmentir o irmão, que disse ter ouvido Killen e seu avô admitirem ter participado das mortes dos três jovens ativistas dos direitos humanos. Mas a própria testemunha se contradisse quando admitiu que as duas famílias eram amigas e que ele, mesmo, não testemunhou a suposta conversa entre Killen e seu avô. Seu irmão tinha 10 anos na ocasião.
Killen já foi julgado uma outra pelos crimes, em 1967, quando outros acusados também foram levados ao tribunal. Mas, na época, ninguém respondia por assassinato, apenas por violação dos direitos civis das vítimas. Killen foi o único a ter sido, agora, processado por homicídio. Quando foi a júri, escapou da prisão porque um entre os 12 jurados brancos votou contra sua condenação.