Título: Ex-presidente diz que foi traído
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/06/2005, Internacional, p. A9

WASHINGTON - Além da oportunidade de conhecer o ex-ditador Saddam Hussein com uma intimidade que poucas pessoas devem ter tido na vida, os soldados americanos responsáveis por sua guarda nos arredores de Bagdá são confidentes do ex-presidente e já ouviram dele várias histórias sobre seus últimos dias no poder.

Saddam confirmou aos carcereiros que, quando as tropas americanas invadiram Bagdá, em março de 2003, ele tentou fugir de táxi. A versão já havia corrido na época.

Mas os Estados Unidos acabaram atacando o palácio para onde o ditador planejava ir, em vez de bombardear aquele onde estava. Segundo os soldados, ele se diverte com o erro do inimigo.

- Ele ri muito quando conta essa história e fala: ''Americanos, seus bobos. Bombardearam o palácio errado'' - afirma Jonathan Reese.

Outra revelação feita aos guardas é que a sua captura em um buraco em Tikrit, em 18 de dezembro de 2003, foi resultado da traição do único homem que sabia de seu paradeiro e que estava sendo pago para manter segredo.

- Ele fica muito bravo quando conta isso - revela Dawson. - Se compara com Jesus e diz que foi traído por um Judas: ''Se o Judas de Jesus nunca tivesse dito nada, ninguém o teria encontrado''.

No entanto, autoridades dos EUA afirmam que as informações que levaram à captura foram resultado de várias fontes de Inteligência, não apenas de um informante do Iraque.

Outro duro golpe sofrido na vaidade do ex-presidente foi a derrubada de sua estátua, na Praça Firdos, em Bagdá, em 9 de abril de 2003. De acordo com os guardas da Pensilvânia, este é um assunto no qual Saddam nunca tocou. Insiste, entretanto, que tudo que fez foi pelo bem do povo, inclusive a invasão ao Kuwait, em 1990.

O ex-ditador parece não perder a esperança de voltar a ser um homem livre. E convidou os carcereiros americanos a visitá-lo em seu palácio em Bagdá, ''quando voltar ao poder''.

- Ele sempre nos diz que ainda é o presidente do Iraque. É nisso que acredita, 100% - conclui Dawson.

Autoridades do Pentágono não comentaram a matéria da revista QG porque ainda não a leram. Foi a justificativa apresentada ontem pela porta-voz Lynnette Ebberts.