Título: Estado de saúde de Arraes é grave
Autor: Ângelo Castelo Branco e Marcos Seabra
Fonte: Jornal do Brasil, 21/06/2005, País, p. A4

RECIFE E SÃO PAULO - O presidente do PSB, Miguel Arraes, de 88 anos, sofreu uma arritmia cardíaca e apresentava ontem, até o início da noite, quadro sugestivo de infecção generalizada. Seu estado de saúde era considerado gravíssimo e de difícil reversão pela equipe médica que o atende.

Arraes está internado na UTI do Hospital Esperança, em Recife. O último boletim médico expedido às 19hs, apresentava discreta melhora no quadro geral. A pressão arterial de Arraes foi estabilizada e o sistema renal funcionava regularmente. Fontes informais admitiam a possibilidade de o ex-governador ter sofrido uma embolia pulmonar na tarde de domingo. O coração do ex-governador funciona espontaneamente não mais sendo comandado pelo marca-passo, mas outros exames revelaram problemas na função cardíaca.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ontem para o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, neto de Arraes. Mandou um abraço à família e pediu ao ministro que permanecesse na cidade o tempo necessário para a recuperação do avô.

O saguão do hospital ficou lotado durante todo o dia. Políticos, jornalistas, parentes e amigos circulavam no local à procura de informações. O secretário estadual de Planejamento, Raul Henry, do governo do desafeto polític, Jarbas Vasconcelos (PMDB), disse que foi ao hospital, atendendo um pedido pessoal do governador para ''prestar solidariedade e colocar a estrutura do governo à disposição da família''.

Nos últimos três anos, o peso político do ''mito'' Miguel Arraes significou uma espécie de interlocução entre a esquerda e a direita moderada dos partidos mais conservadores do Nordeste e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Com o afastamento da vida política de Arraes, o PT perde um poderoso aliado cujo poder de articulação e legitimidade política, somaria seguramente uma preciosa ferramenta na composição de forças em favor da governabilidade do Planalto.

A chegada do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, aos quadros do PSB com o aval de Arraes, se tornou um agravante indesejado na reforma ministerial que Lula inicia nesta semana. Conduzido pelas mãos de Eduardo Campos, Ciro engrossa a importância dos socialistas no governo.

Os líderes do PT pernambucano atentam que, sem o caudilho Arraes, desmoronam as barreiras de contenção no plano das negociações internas do PSB e do partido com a esquerda ideológica do governo petista. Eduardo Campos simboliza também o aceno de Arraes contrário a qualquer manifestação de aproximação do PT com o PMDB de Jarbas Vasconcelos. Essa possibilidade vem sendo periodicamente tratada pelos observadores, e discretamente admitida pelo prefeito petista do Recife, João Paulo. No que todos concordam é com o peso da figura de Arraes e de sua incontestável autoridade e capacidade de impor sentimentos de responsabilidade perante as bancadas parlamentares de Pernambuco e do Nordeste.