Título: Dama de ferro na Casa Civil
Autor: Karla Correia e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 21/06/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - O governo Luiz Inácio Lula da Silva apresentou ontem sua nova gerente ao confirmar o nome da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para a Casa Civil, no lugar de José Dirceu cuja exoneração, ¿a pedido¿, será pulicada na edição de hoje do Diário Oficial. A cerimônia de posse está marcada para 16h. O convite havia sido formalizado pelo presidente Lula em conversa com a ministra na última sexta-feira no Palácio do Planalto. A demora na oficialização de Dilma na Casa Civil foi motivada pela resistência da ministra em deixar a pasta de bandeja para o PMDB e em função de pressões de setores do PT. ¿Deus me livre¿, teria dito a ministra numa primeira sondagem, segundo interlocutores do presidente. No entanto, durante a viagem de retorno do Paraguai ontem, onde cumpriu compromissos oficiais, Lula conseguiu convencê-la.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, ficará no comando do ministério interinamente. O presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, indicação do senador José Sarney (PMDB-AP), era considerado a solução natural para substituí-la.

Na avaliação de integrantes do governo, a definição do nome de Dilma para suceder Dirceu na Casa Civil, evidenciou uma tentativa do presidente de alardear força em meio à mais profunda crise do governo.

Reconhecida como boa gerente, a petista se cacifou após formatar o novo modelo do sistema elétrico afastando o risco do apagão ao garantir o fornecimento seguro de energia para os próximos anos. A escolha de Dilma irá conferir à Casa Civil um perfil mais gerencial, como na época da gestão tucana do ex-ministro Pedro Parente.

O destino da Coordenação Política, por sua vez, ainda está indefinido: pode ser ocupado pelo ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, mas também especula-se o nome do prefeito de Aracaju, Marcelo Deda. Fala-se também na extinção da pasta.

O anúncio da ministra abre caminho para que Lula anuncie a aguardada reforma ministerial. O modelo que está na mente de Lula prevê o afastamento de focos da crise política, o fortalecimento da base governista na Câmara, a ampliação do espaço do PMDB na Esplanada, o enxugamento da máquina administrativa e a redução do número de cargos de primeiro e segundo escalões nas mãos de PL, PP e PTB.

O presidente pretende encontrar-se com as principais lideranças do PMDB para definir o novo quinhão do partido na Esplanada. O PP também deve ganhar um ministério. Em estudo está o ministério do Trabalho, que pode ser ocupado pelo deputado Francisco Dornelles.

Em comum com o ministro demissionário, Dilma Rousseff guarda o passado de participação em organizações clandestinas de esquerda, na ditadura militar. Na condução do Ministério de Minas e Energia desde a posse do presidente Lula, a ministra construiu fama de boa gerente, mas é encarada como uma negociadora dura por interlocutores no Congresso.